A Marinha do Brasil (MB) contribui de forma ativa para a conservação da biodiversidade ao apoiar pesquisas científicas, instituições acadêmicas e ao fornecer suporte logístico e técnico. Ao proteger as riquezas naturais brasileiras, a Força atua de maneira dual, pois os estudos realizados promovem não apenas a preservação da flora, fauna, recursos hídricos e ecossistemas, como também fortalecem a soberania nacional e o bem-estar da população.
O Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) é uma organização da MB, subordinada ao Centro Tecnológico da Marinha no Rio de Janeiro (CTMRJ). Realiza atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação voltadas ao estudo e uso sustentável do ambiente marinho, em consonância com os interesses estratégicos da Força e com o desenvolvimento socioeconômico nacional.
O IEAPM foi fundado com base na visão do Almirante Paulo Moreira, que em 1956 escolheu a região de Arraial do Cabo, conhecida por sua rica biodiversidade decorrente do fenômeno da ressurgência (fenômeno dos oceanos onde águas frias de profundidade sobem para a superfície do mar). Há mais de quatro décadas, o Instituto desenvolve pesquisas, projetos e inovações que reforçam o papel estratégico do mar para o Brasil. A frase do Almirante Paulo, “que nos apropriemos desse mar com uma posse real, profunda, definitiva e apaixonada”, sintetiza o espírito de valorização e compromisso com os oceanos que orienta a atuação da unidade.
Entre os projetos desenvolvidos, destacam-se os voltados à proteção da biodiversidade marinha frente aos efeitos da bioinvasão e da bioincrustação, como os estudos “Coral-sol”, “Água de Lastro” e “Prevenção e Monitoramento de Espécies Não Nativas na Costa Brasileira”. Essas iniciativas visam mitigar os impactos ambientais causados por espécies exóticas nos ecossistemas marinhos do País.
Outro projeto de destaque é o estudo que resultou no livro sobre a biodiversidade marinha dos costões rochosos de Arraial do Cabo (RJ), concluído após 20 anos de pesquisas. A informação é do pesquisador Ricardo Coutinho, chefe do Departamento de Biotecnologia Marinha do IEAPM.
A publicação descreve 1.213 espécies marinhas identificadas na região de Arraial do Cabo. Composta por 14 capítulos, aborda características oceanográficas, fauna e flora bentônicas e impactos antropogênicos, ressaltando a importância da conservação para a manutenção do equilíbrio ecológico de uma área de significativa relevância biogeográfica.

Pesquisas duais em andamento no Instituto
O IEAPM realiza monitoramentos ambientais contínuos, como o acompanhamento da biota aquática, presença de metais pesados, qualidade da água e níveis de radionuclídeos na região de Itaguaí, onde está situada a infraestrutura de construção do primeiro Submarino Nuclear Convencionalmente Armado do Brasil (SNCA), o Submarino “Álvaro Alberto”. Esses dados são essenciais para avaliar e mitigar os impactos das atividades humanas sobre o ambiente marinho.

Projetos inovadores como o “Redes Acústicas Submarinas e Monitoramento Ambiental Marinho” (RASUBMAR), subprojeto do Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz-2), têm aplicação dual. A iniciativa, aprovada com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, busca estudar os impactos da atividade humana na paisagem acústica submarina em regiões portuárias, gerando dados sobre os efeitos do ruído antropogênico nos organismos marinhos.
Na área da biotecnologia e biodiversidade genética, o IEAPM desenvolve projetos como a “Engenharia Genética para a Síntese de Produtos Naturais de Algas Marinhas com Potencial Biotecnológico”, que busca produzir substâncias com propriedades anticâncer e anti-incrustantes.
Outro destaque é o projeto voltado à criação de um superalimento à base de algas e células marinhas, com potencial para complementar a ração operacional dos militares. A proposta prevê formulações adaptadas às diferentes necessidades energéticas do combatente.
Ensino e extensão
Além das atividades de pesquisa, o Instituto contribui para a educação científica por meio de seu Museu Oceanográfico, aberto ao público, e de uma coleção com mais de 5 mil exemplares catalogados, que atrai estudantes e pesquisadores. A biblioteca do IEAPM, também acessível à comunidade, reúne obras especializadas em estudos marinhos, incluindo publicações do Almirante Paulo Moreira.
O Instituto oferece cursos de pós-graduação, como o Mestrado e Doutorado em Biotecnologia Marinha e o Mestrado em Acústica Submarina. Neles, civis e militares conduzem pesquisas voltadas à preservação da biodiversidade e ao avanço do conhecimento científico aplicado aos oceanos.
O IEAPM também é responsável pelo controle ambiental e turístico da Ilha do Cabo Frio (RJ), área de elevada relevância ecológica cuja conservação é assegurada pela MB.
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