Em 7 de julho, a Marinha do Brasil (MB) celebra 45 anos de ingresso feminino na Força, trajetória marcada por avanços significativos. Pouco antes, em 12 de junho, a Capitão de Mar e Guerra (Quadro Técnico) Maria Emília de Moura Estevão Padilha tornou-se a primeira mulher a exercer a função de Imediato do Centro de Instrução Almirante Wandenkolk (CIAW), no Rio de Janeiro (RJ). Como Imediato, é responsável pela administração geral do Centro, pela disciplina e pelo acompanhamento direto das atividades diárias, assegurando o pleno funcionamento da Organização Militar e a formação dos futuros Oficiais.
Graduada em Relações Públicas, ingressou na Marinha em 1998, por meio do Curso de Formação de Oficiais (CFO), realizado no próprio CIAW. Desde então, consolidou uma trajetória profissional com diversas experiências relevantes. Em entrevista à Agência Marinha de Notícias, comenta sua carreira e o papel da participação feminina na Força.
Agência Marinha de Notícias (AgMN): Como foi o ingresso da senhora na Marinha? Quais planos tinha na época?
Capitão de Mar e Guerra (Quadro Técnico) Maria Emília: Em 1997, quando eu estava terminando a faculdade de Relações Públicas, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), comecei a analisar as perspectivas profissionais. Na época, eu estagiava em uma agência de publicidade, mas o mercado de Comunicação é muito instável, e eu queria algo que me desse mais segurança. Então, quando abriram as inscrições para o concurso da Marinha, eu me inscrevi. Fiz a prova com a matéria da faculdade ainda fresca na cabeça e fui aprovada. Colei grau antes da minha turma, para conseguir entregar toda a documentação em tempo hábil e concluir o processo para, em março de 1998, entrar no Curso de Formação de Oficiais (CFO), que durou até dezembro daquele mesmo ano.
AgMN: Quais momentos considera mais significativos em sua trajetória?
Capitão de Mar e Guerra (Quadro Técnico) Maria Emília: Foram tantas coisas tão boas e importantes, que é difícil destacar um ou outro evento. Quando entramos para a Marinha, percebemos que a nossa vida pessoal e a nossa vida profissional se fundem muito, pela dedicação que temos ao serviço. Conheci meu marido na Marinha, quando minhas duas filhas nasceram eu já estava na Marinha. Profissionalmente, destacaria o fato de ter sido assessora do Conselheiro Militar em Genebra, na Suíça, em 2016 e 2017. Foi uma experiência única, na qual se adquire uma nova perspectiva de serviço ao País. Vê-se o nível político de deliberações e discussões, o que é muito engrandecedor. No meu retorno, fui servir na Diretoria de Portos e Costas (DPC), onde passei oito anos e mergulhei no mundo da Autoridade Marítima, que também é encantador.
AgMN: Qual a importância de ocupar o cargo de Imediato do CIAW?
Capitão de Mar e Guerra (Quadro Técnico) Maria Emília: Tem sido fenomenal. Primeiro, é a experiência de voltar para casa. Volto para onde iniciou a minha vida na Marinha. Me dá muito orgulho, porque todas as pessoas que chegam aqui estão vindo viver um sonho profissional, de ascensão social, de estabilidade. É uma responsabilidade muito grande ser tripulação do CIAW. Estamos aqui para servir ao aluno, e um aluno bem formado reflete em toda a Marinha. Hoje, nós formamos 54% dos Oficiais da MB.

AgMN: Como avalia o pioneirismo da Marinha e os avanços na integração feminina?
Capitão de Mar e Guerra (Quadro Técnico) Maria Emília: A nossa Instituição baseia-se muito na meritocracia. O mérito é uma questão pessoal, mas também uma construção histórica. É fundamental enaltecermos o trabalho das pioneiras da Marinha e de todas as mulheres que desempenharam bem suas funções. Foi o trabalho e o profissionalismo delas que abriram portas e comprovaram a capacidade das mulheres e dos Oficiais do Quadro Técnico como um todo. É importante percebermos como a MB, assim como as demais Forças Armadas, são igualitárias nesse sentido: todos temos a mesma formação e recebemos a mesma remuneração, de acordo com o posto em que estamos. Isso é a comprovação de uma instituição que enxerga homens e mulheres de forma igual, tanto em seus direitos quanto em seus deveres.
AgMN: Que mensagem deixa para as mulheres que já integram a Força ou desejam ingressar?
Capitão de Mar e Guerra (Quadro Técnico) Maria Emília: Meu pai era da Marinha, mas, quando entrei na faculdade, ser militar não passava pela minha cabeça. No entanto, surgiu a oportunidade. Eu digo, hoje, que sou feliz todos os dias: sou muito feliz com a carreira que eu tenho, sou muito realizada profissional e pessoalmente. A MB abre portas, amplia os horizontes, valoriza e acolhe o profissional que está aqui dentro. Vemos poucas instituições cuidando, efetivamente, do seu pessoal. Estar na Marinha, para mim, é sentir-se em casa, acolhida todos os dias, acordar e vir para o trabalho sabendo que vou ter mais um dia com desafios, mas com a certeza de vitórias. Venham para a Marinha!
Assista ao vídeo da entrevista:
youtube[https://www.youtube.com/embed/DLKcWzSeKs4]
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