Os ataques recentes a bases e instalações militares com emprego de drones evidenciaram as mudanças tecnológicas e estratégicas sobre a guerra moderna. “De infraestrutura militar crítica a instalações civis, a vulnerabilidade a sistemas pequenos, precisos e difíceis de detectar está aumentando. As defesas aéreas convencionais são frequentemente inadequadas para esse novo cenário de ameaças”, escreveu em um artigo a pesquisadora do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, nos Estados Unidos, Kateryna Bondar.

No Brasil, uma pesquisa de docentes do Centro de Instrução Almirante Alexandrino, da Marinha do Brasil (MB), desenvolveu uma técnica inovadora para detecção de drones. O trabalho, dos Capitães-Tenentes Willian Sathler Lino Soares e Thiago Ogioni Costalonga e do professor-doutor Guilherme Ribeiro Colen, foi publicado na edição de junho do Journal of Microwaves, Optoelectronics and Electromagnetic Applicatios, revista científica de repercussão internacional editada pela Sociedade Brasileira de Micro-ondas e Optoeletrônica e pela Sociedade Brasileira de Eletromagnetismo.

Precisão e confiabilidade

A pesquisa investiga a aplicação do efeito “micro-doppler” em radares, a fim de distinguir drones de aves. “O efeito ‘micro-doppler’ ocorre devido aos movimentos de vibração ou rotação de partes adicionais de um alvo, além do movimento do corpo principal. Essa técnica é fundamental porque as pás rotativas de um drone geram um padrão micro-doppler muito diferente do batimento de asas de um pássaro, permitindo uma classificação precisa e confiável do tipo de alvo detectado pelo radar”, explica Guilherme Colen.

Segundo o Capitão-Tenente Sathler, que é mestre em Engenharia de Telecomunicações, o estudo contribui para a segurança e a defesa nacionais diante do crescente uso de drones em atividades ilícitas e também em ofensivas contra instalações e organizações militares. “A capacidade de diferenciar rapidamente drones de aves por meio de tecnologia de radar é crucial para evitar alertas falsos e permitir uma resposta ágil e eficaz a ameaças reais, otimizando recursos e garantindo a integridade de operações sensíveis”, avalia.

Sinergia

Além dos docentes da MB, assinam o artigo os professores-doutores Vanessa Magri e Victor Fernandes, do Departamento de Engenharia Elétrica e de Telecomunicações da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro (RJ). Os experimentos de campo e a coleta de dados foram conduzidos no Laboratório de Guerra Eletrônica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), instituição pública de Ensino Superior associada ao Comando da Aeronáutica, em São José dos Campos (SP).

Para o Capitão-Tenente Ogioni, a sinergia entre a Marinha do Brasil e instituições acadêmicas de prestígio, como a UFF e o ITA, é um exemplo de como a integração entre o setor militar e o meio científico pode gerar resultados de relevância estratégica para o País. “Essa parceria multidisciplinar não somente impulsiona a inovação tecnológica, mas também forma e capacita profissionais com conhecimentos aplicados que beneficiam diretamente a defesa e a sociedade brasileira”, acredita.

O artigo, publicado em inglês, pode ser consultado gratuitamente no site da revista.

Identificando oportunidades

Enquanto avança nas pesquisas voltadas ao uso de novas tecnologias, a Marinha do Brasil também investe em identificar oportunidades de emprego de drones para fins militares e em capacitar profissionais com habilidades para operar esses equipamentos. Com esse objetivo, o Corpo de Fuzileiros Navais realizará, nos dias 1º e 2 de outubro de 2025, no Rio de Janeiro (RJ), o 1º Campeonato de Drone Militar do Corpo de Fuzileiros Navais, evento inédito que reunirá militares das Forças Armadas, Forças Auxiliares e instituições convidadas para explorar as potencialidades do uso de drones em operações militares.

A programação contará com workshop técnico, mostruário de empresas, demonstrações operacionais e competições em quatro categorias: manobras, ataque simulado, reconhecimento e vigilância, e categoria aberta. O workshop, marcado para o dia 1º de outubro, reunirá empresas do setor e instituições de pesquisa tecnológica em uma série de palestras e demonstrações ao vivo, voltadas à troca de conhecimentos e à apresentação de soluções inovadoras para o emprego tático de drones.

Colaboração: Primeiro-Sargento (Eletrônica) Lucena