Na manhã de 21 de julho de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), a Corveta “Camaquã” navegava em mar agitado, nas proximidades do Porto de Recife (PE), quando foi surpreendida por três ondas em sequência. A primeira inclinou o navio; a segunda causou falha na bomba de circulação de água; e a terceira, em poucos segundos, provocou o tombamento da embarcação, que afundou no Atlântico.

A bordo estavam 117 militares da Marinha do Brasil, dos quais 33 perderam a vida, incluindo o Comandante, Capitão de Corveta Gastão Monteiro Moutinho; o Primeiro-Tenente Rubens Poggi de Figueiredo; sete Sargentos; e 24 Marinheiros. Os sobreviventes foram resgatados com o apoio imediato dos Caça-Submarinos “Jutaí” e “Graúna”, que integravam o mesmo comboio marítimo e chegaram ao local minutos após o naufrágio.

O acidente, considerado imprevisível por historiadores, ocorreu exatamente dois dias após o torpedeamento do Navio-Auxiliar “Vital de Oliveira”, consolidando-se como mais um capítulo dramático da história naval brasileira na Segunda Guerra Mundial e eternizando a data, lembrada até hoje com cerimônias que homenageiam os mortos da Marinha em guerra.

Relatos reunidos no livro Flores ao Mar: os naufrágios navais brasileiros, de Raul Coelho Barreto Neto, registram os últimos momentos da tripulação. O então Tenente Castro e Silva, que descansava em seu camarote minutos antes do naufrágio, relatou:

[...] Meu camarote tinha uns livros. Senti que algo estava errado, pois todos os livros caíram e isso nunca tinha acontecido [...] a água subiu no convés, chegou ao canhão e, à medida que o navio foi virando, eu ia subindo. [...] Fui de cócoras e pulei na água [...].”

Outro depoimento, do Marinheiro sobrevivente Miguel Blanco Casimiro, complementa o registro histórico:

“Lembro que estávamos no refeitório fazendo um pequeno lanche. De repente [...] estava diante de uma tragédia. Nos salvamos por um milagre. Foram horas de desespero vendo água entrar no navio por todos os lados. [...] Vimos morrer nossos companheiros e não tivemos condições de salvá-los. [...]Tivemos que pular na água, […] nessa hora tive medo, parei e roguei ao céu: oh, senhor! Tenha piedade de todos nós que ainda estamos muito jovens para morrer!.”

Memória submersa e legado histórico

Hoje, os destroços da Corveta “Camaquã” permanecem a cerca de 55 metros de profundidade, transformados em sítio de turismo subaquático. O local, por seu valor histórico e cultural, é considerado um marco de memória da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial e deve ser visitado com respeito.

Segundo o arqueólogo e Ajudante da Divisão de Arqueologia Subaquática da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, Primeiro-Tenente (Quadro Técnico) Marcelo Rolim Manfrini, a história da “Camaquã” revela lições fundamentais.

Quando um Marinheiro moderno estuda esse episódio, ele não herda apenas conhecimentos técnicos, mas também o legado vivo de colegas que deram tudo pelo serviço à Pátria. O mar continua o mesmo, exige nosso respeito e preparo, o que vai além de apenas melhoras na tecnologia naval”, afirmou.

Ainda de acordo com o militar, as vítimas do naufrágio não são apenas personagens históricos. “A tragédia da ‘Camaquã’ vai muito além dos registros. As vítimas eram brasileiros reais, com famílias, sonhos e um dever a cumprir. Estudar esse episódio é herdar seu legado de coragem e sacrifício e lembrar que o mar continua exigindo respeito, preparo e memória”, concluiu.

A trajetória da Corveta “Camaquã”

Lançada ao mar em 16 de setembro de 1939, a Corveta “Camaquã” foi incorporada à Esquadra brasileira em 6 de junho de 1940. Com deslocamento de 552 toneladas, 57 metros de comprimento e casco de aço, o navio teve papel relevante durante a Segunda Guerra Mundial.

Durante sua atuação no conflito, desempenhou um papel vital, navegando por cerca de 58.700 milhas em 130,5 dias de mar. Na atuação em operações de guerra, escoltou 52 comboios, um número que chegou a cerca de 700 navios.

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Comentários

Wagner Hundert… (não verificado) Seg, 21/07/2025 - 11:50

Repousem em paz,leais e valorosos marinheiros da invicta Marinha de Tamandaré.

Jose Silva Oliveira (não verificado) Seg, 21/07/2025 - 11:54

Marinheiros os eternos homens do MAR. Bravo Zulu para aqueles companheiros de farda.

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