O mesmo Navio-Aeródromo Multipropósito “Atlântico”, que em abril deste ano estava no litoral do Rio de Janeiro (RJ), no exercício simulado “Jeanne d’Arc”, com a Marinha Nacional Francesa, atracava em Rio Grande (RS), no final de junho, em uma operação humanitária, em apoio ao estado assolado por uma enchente histórica. O Navio de Assistência Hospitalar “Tenente Maximiano”, que em julho participava do maior treinamento ribeirinho da América Latina, o “Acrux”, na Argentina, somava-se aos esforços de combate aos incêndios no Pantanal sul-mato-grossense, em setembro.
Missões diversas como essas são frequentes na rotina dos militares da Marinha do Brasil (MB) e em 2024 não foi diferente. Inúmeros treinamentos, regulares e inéditos, individuais e combinados, em águas brasileiras e internacionais, permitiram à Força Naval se manter preparada para encarar todo tipo de desafio a qualquer tempo, como “Aspirantex”, “Aderex”, “Minex”, “Lançamento de Armas”, “Formosa” e “Furnas”, “Jeanne d’Arc”, “Caribex”, “Southern Seas”, “Unitas”, “Fraterno”, “IBSAMAR”, “Solidarex”, “Obangame Express”, “Guinex”, “Acrux” e “BRACOLPER”.
As tripulações deste ano, porém, estavam mais diversificadas, com mulheres ocupando funções operativas, antes exclusivas dos homens. Além disso, a MB, em mais uma iniciativa pioneira, formou, em junho, as primeiras mulheres Soldados Fuzileiros Navais da história do País, no Rio de Janeiro (RJ). Esta era, até então, a única carreira da Marinha que não contava com mulheres em suas fileiras. Em setembro, algumas delas já estavam participando do principal exercício militar do Planalto Central, que reuniu 3 mil militares de 10 países, em Formosa (GO).

Novos meios de defesa
A capacidade operativa da MB também depende da renovação da Esquadra, que seguiu a plenos motores. Além de entregar ao País mais um submarino convencional com propulsão diesel-elétrica, o “Humaitá”, em janeiro, o Programa de Submarinos da Marinha avançou na produção do submarino nuclear convencionalmente armado “Álvaro Alberto”, em junho, com o início da montagem do casco resistente onde ficará o gerador de energia. Já o Programa Fragatas Classe “Tamandaré” concluiu, em agosto, a primeira das quatro unidades a serem construídas até 2029.

O aparelhamento incluiu o Corpo de Fuzileiros Navais, que recebeu quatro viaturas blindadas leves sobre rodas (JLTV, do inglês) do governo norte-americano, como parte do programa estratégico PROADSUMUS. A aviação naval da MB adquiriu a aeronave remotamente pilotada NAURU 500C, rebatizada de “RQ-2”, em outubro, para reforçar ações de busca e salvamento (SAR, do inglês). Entre janeiro e novembro, o serviço de SAR resgatou mais de 400 pessoas em acidentes no mar, de acordo com o Comando de Operações Marítimas e Proteção da Amazônia Azul (ComPAAz).
Amazônia Azul no mapa
Para evitar todo tipo de acidente da navegação, o monitoramento marítimo ganhou reforço. Em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a MB continuou desenvolvendo o Sistema Multiusuário de Detecção, Previsão e Monitoramento de Derrame de Óleo no Mar, para prevenir ocorrências como a de 2019.

Em mais uma frente de ação para alcançar um ambiente marinho seguro, a Força Naval buscou fomentar a mentalidade marítima da população. Para isso, contribuiu com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e com o Ministério da Educação (MEC) para incluir a Amazônia Azul na última revisão do Atlas Geográfico, lançado em abril. O novo mapa brasileiro, com seus 5,7 quilômetros quadrados da faixa marítima, também foi adotado por diferentes emissoras de TV, durante sua programação jornalística.
Cuidado e segurança
O trabalho em favor da segurança da navegação também esteve presente nas operações anuais “Verão”, agora chamada de Operação Navegue Seguro, e “Travessia”, que intensificaram a fiscalização no período de maior circulação de embarcações no litoral e nas águas interiores brasileiras. Ao todo, cerca de 140 mil embarcações foram inspecionadas pelas 69 Capitanias, Delegacias e Agências em todo o Brasil. Na Amazônia Ocidental, onde foi registrada uma baixa sem precedentes do nível dos rios, a MB promoveu a sondagem dos trechos mais críticos, contribuindo para atualização das cartas náuticas.
Enquanto o Norte sofria com a maior seca de sua história, o Sul foi assolado pela pior enchente em décadas. Desde o final de abril, a MB mobilizou mais de 2 mil militares, nove navios, 11 helicópteros, 73 embarcações e 215 viaturas em apoio às 2,3 milhões de vítimas, segundo a última atualização da Defesa Civil do Rio Grande do Sul. Além de transportar doações, a Força Naval levantou um hospital de campanha para aliviar a pressão sobre os hospitais da região e, passada a comoção pública, os militares permaneceram no estado gaúcho, contribuindo para sua reconstrução.

Já o Pantanal foi castigado por 14,6 mil focos de incêndio entre janeiro e novembro, de acordo com dados do INPE, 137% a mais do que no mesmo período do ano passado. A situação foi agravada em junho, quando então a Marinha foi acionada e empregou dois helicópteros, 13 navios e embarcações e seis viaturas em apoio aos brigadistas. A ajuda continuou nos meses subsequentes, com atendimentos médicos às famílias ribeirinhas que apresentaram problemas de saúde devido à fumaça.

Combate ao crime
O apoio humanitário foi prestado, ainda, a comunidades da Terra Indígena Yanomami, onde além de promover assistência médica, os militares da MB reforçam, desde 1° de abril, o contingente da Operação “Catrimani II”, de combate ao garimpo ilegal. Em conjunto com as demais Forças Armadas, eles já inutilizaram mais de 300 acampamentos e 45 pistas de pouso e apreenderam 221 dragas, 977 motores e 17 quilos de ouro. Nas fronteiras, eles integraram a operação “Ágata Amazônia”, concluída em setembro, com a apreensão de quase 5 toneladas de drogas e cerca de 2 kg de ouro.
O crime organizado também foi alvo da operação de Garantia da Lei e da Ordem, batizada no âmbito da Marinha de “Lais de Guia”, em portos do Rio de Janeiro (RJ) e de São Paulo (SP), nas Baías de Guanabara e de Sepetiba (RJ), no canal de acesso ao Porto de Santos (SP) e no Lago de Itaipu (PR). Foram empregados cerca de mil militares por dia no enfrentamento ao tráfico de drogas e de armas nesses locais. Dados do Comando de Operações Marítimas e Proteção da Amazônia Azul (COMPAAz) confirmam um prejuízo de R$ 122 milhões imposto aos criminosos.

O reforço da segurança da Cúpula de Líderes do G20, em novembro, foi outra ação que mostrou a versatilidade da atuação da Marinha no apoio às ações do Estado brasileiro. O G20 é um fórum de cooperação econômica internacional composto por 19 países, a União Africana e a União Europeia. Durante o evento e nos dias que o antecederam, os militares realizaram patrulhamento naval, busca de artefatos explosivos com o emprego de cães, e ação de reconhecimento e varredura contra ameaças nucleares, biológicas, químicas e radiológicas.

A defesa e a segurança da navegação não foram as únicas colaborações da MB para o País ao longo do ano. O investimento da Instituição no esporte de alto rendimento rendeu frutos nos Jogos Olímpicos de Paris, que aconteceram entre julho e agosto. O Programa Olímpico da Marinha (PROLIM) ajudou o Time Brasil a conquistar 30% de suas medalhas. Dos 277 atletas brasileiros que competiram, 43 foram militares da MB, participando em 12 modalidades. O País ficou na 19ª colocação geral com três ouros, sete pratas e dez bronzes.

Os principais acontecimentos de 2024 foram manchetes da Agência Marinha de Notícias, que comemorou dois anos e publicou mais de 500 notícias nos últimos 12 meses. Muitas delas ganharam repercussão nos jornais e telejornais brasileiros de grande audiência. Elas foram divulgadas, ainda, para o público cadastrado nos canais da MB nos aplicativos de mensagens instantâneas WhatsApp e Telegram e para os seguidores dos perfis oficiais nas redes sociais Instagram, Threads, X (antigo Twitter), Facebook e YouTube.
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Parabéns pela excelente reportagem!
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