No lugar de canhões e mísseis, entram ecobatímetros e posicionadores de alta precisão. Os navios hidroceanográficos da Marinha do Brasil (MB) desempenham papel essencial na segurança da navegação, na pesquisa científica e no monitoramento ambiental. Atuando na manutenção das rotas marítimas, na salvaguarda da vida humana no mar e na prevenção da poluição hídrica, esses navios realizam levantamentos hidrográficos, produzem cartas náuticas, emitem previsões meteorológicas e operam o balizamento — instalação e manutenção de boias e faróis em áreas marítimas e fluviais.

Frequentemente desconhecidos do grande público, esses navios, são os responsáveis por produzir e divulgar informações para a navegação segura e para o conhecimento do ambiente marinho, incluindo a identificação de áreas de perigo. Atualmente, a Marinha dispõe de 21 navios subordinados, direta ou indiretamente, à Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN).

Esses navios operam em locais de difícil acesso, em águas rasas e canais estreitos de rios. Sua atuação permite a descoberta de rotas seguras e a ampliação do conhecimento sobre a geografia e as características oceanográficas das águas jurisdicionais brasileiras.

Segundo o Imediato do Grupamento de Navios Hidroceanográficos (GNHo), Capitão de Fragata Jorge Luiz Nascimento de Paula, “a Hidrografia da Marinha do Brasil desempenha papel crucial na segurança da navegação e no desenvolvimento científico do País. Seu trabalho contínuo assegura rotas marítimas seguras e contribui para o conhecimento dos nossos mares e águas interiores.”

Um exemplo desse trabalho é o Navio de Pesquisa Hidroceanográfico (NPqHo) “Vital de Oliveira”, um dos mais modernos em investigação científica no Hemisfério Sul. Incorporado à Marinha em 2015, a embarcação realizou, em janeiro deste ano, um feito inédito: localizar no fundo do mar o único navio de guerra brasileiro naufragado no País durante a Segunda Guerra Mundial, o também “Vital de Oliveira”.

Além dos “navios brancos”, a Hidrografia da MB também opera os chamados “navios vermelhos”: o Navio de Apoio Oceanográfico (NApOc) “Ary Rongel” e o Navio Polar “Almirante Maximiano”. Essas embarcações marcam presença nas águas austrais desde 1982, durante a Operação Antártica (OPERANTAR). Na última edição da operação, foram realizados 23 projetos científicos pelo Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), com a participação de 134 pesquisadores, incluindo professores universitários e alunos de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado.

A vida do hidrógrafo

Para o Suboficial-Mor da DHN, Alberto Rêgo Chaves Junior, a OPERANTAR foi uma das muitas experiências acumuladas em seus mais de 30 anos de carreira embarcado em navios hidroceanográficos. Especializado em Hidrografia, o militar já participou de três comissões no oceano Austral, em 2007, 2011 e 2019.

“Sinto falta dos embarques, da aventura de nos lançarmos ao mar com o propósito de apoiar grupos científicos, coletar dados estratégicos que contribuirão para a cartografia náutica e segurança da navegação em águas rasas, profundas e próximo de portos por onde escoam 95% do comércio brasileiro”, comentou o hidrógrafo.

Totalizando 1.600 dias de mar, sendo 1.500 deles a bordo dos navios brancos, o Suboficial descreve o trabalho a bordo como “intenso”. A coleta, o processamento e a verificação dos dados ditam o ritmo das missões. “Existe uma simbiose entre os grupos de trabalho, com o pessoal rodando as divisões e os quartos de serviço por 24 horas, conduzindo a aquisição de dados com diversos equipamentos e assegurando a qualidade e integridade das informações. Por vezes, é necessário deslocar equipes até a popa para lançar ou recolher equipamentos de coleta”, completou.

Apesar da rotina exigente, o Suboficial afirma que escolheria novamente a carreira. “Os navios brancos representam, para mim, realização profissional e pessoal. Sei que o nosso trabalho é útil para a nação e para todos os que navegam em nossas águas.”

Emprego em situações de combate

Além das missões científicas e de apoio à navegação, os navios hidroceanográficos também possuem relevância estratégica. Conforme ressalta o Capitão de Fragata Jorge Luiz, “em situações de conflito, essas embarcações estão aptas a atuar em cenários operacionais complexos, especialmente quando integradas a uma força-tarefa.”

Elas podem contribuir em levantamentos de praias e áreas litorâneas para operações anfíbias, no reconhecimento de áreas marítimas e fluviais para a guerra de minas, e na caracterização ambiental de regiões de interesse estratégico.

Atividades a bordo dos “navios brancos”

Entre as principais atividades dos navios subordinados à DHN estão os levantamentos hidrográficos, que consistem na coleta de dados batimétricos, geológicos, maregráficos e oceanográficos em áreas marítimas, fluviais e de lagos. Esses dados alimentam a elaboração e atualização de cartas náuticas — uma espécie de “mapa do mar” — indispensáveis à navegação segura nas águas jurisdicionais brasileiras.

Além disso, as embarcações contribuem para a geração de informações meteorológicas e oceanográficas, apoiando a previsão de marés, de correntes e de condições do mar — informações essenciais tanto para as operações navais quanto para o tráfego marítimo civil. Parte dessas informações compõe o Banco Nacional de Dados Oceanográficos (BNDO), que integra o Sistema Mundial de Dados Oceanográficos e é acessado por pesquisadores, navegadores e órgãos governamentais.

Os navios da DHN também recebem estudantes de oceanografia para estágios obrigatórios a bordo, que exigem pelo menos 100 horas de embarque.

A sinalização náutica é outro campo de atuação dos navios hidroceanográficos, que participam da instalação e manutenção de faróis, boias e outros dispositivos de orientação para a navegação. Um exemplo é o Navio Hidroceanográfico Faroleiro “Almirante Graça Aranha”, que desempenha papel fundamental na segurança das rotas marítimas, especialmente em áreas críticas do litoral.

Esses navios funcionam como plataformas de instrução para a formação de militares e civis em hidrografia, oceanografia e navegação, contribuindo para o avanço do conhecimento científico e tecnológico do País.

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Comentários

Wagner Hundert… (não verificado) Sáb, 21/06/2025 - 21:28

Parabéns por mais esse excelente serviço prestado ao país. Bravo Zulu

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