A Marinha do Brasil, por meio da Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), mantém uma série de projetos científicos voltados à observação, à modelagem e ao monitoramento do ambiente marinho. As pesquisas têm aplicação direta na segurança da navegação e no desenvolvimento de conhecimento técnico e científico sobre as condições oceânicas e meteorológicas da costa brasileira.
Os estudos são conduzidos majoritariamente pelo Centro de Hidrografia da Marinha (CHM), organização subordinada à DHN, que atua como célula de inovação tecnológica. Entre os temas priorizados, destacam-se a coleta de dados meteoceanográficos, o uso de plataformas fixas e móveis no mar, modelagem numérica de tempo e clima com uso de supercomputadores e o gerenciamento de grandes volumes de dados oceanográficos, batimétricos e cartográficos.
As informações geradas são utilizadas em produtos e serviços voltados à comunidade marítima e científica e também ficam disponíveis ao público. Universidades e centros de pesquisa fazem uso frequente desses dados em teses, dissertações, estudos ambientais e projetos de Engenharia, Oceanografia, Meteorologia e ciências afins.
Para o pesquisador e meteorologista Paulo Nobre, a Marinha desempenha um papel central na continuidade desses estudos. Coordenador do projeto Rede de Boias Ancoradas para Previsão e Pesquisa no Atlântico Tropical (PIRATA, na sigla em inglês) no Brasil, pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE), ele ressalta a importância da disponibilização dos navios da Marinha para a colocação de boias oceânicas que coletam dados meteoceanográficos.
A parceria da MB se reveste de extrema relevância, não somente para o apoio de navios e suas tripulações na realização dos cruzeiros oceanográficos do Projeto PIRATA, mas também na utilização dos prognósticos de tempo e clima oriundos do trabalho da comunidade científica nacional e internacional para o desenvolvimento de modelos prognósticos com maior precisão e antecipação de eventos meteoceanográficos extremos. A utilização das previsões de tempo e clima pela MB para orientar suas atividades, assim como o crescente tráfego marítimo ao longo do extenso litoral brasileiro, demonstra a relevância da parceria da Marinha para o sucesso do Projeto PIRATA e para os conhecimentos e previsões dele derivados”, comentou o cientista.
O projeto PIRATA Brasil é um dos que são acompanhados de perto pela Marinha, contando, ainda, com o apoio da França e dos Estados Unidos. Com pesquisas que acontecem há 27 anos, o PIRATA provê a mais completa base observacional de dados oceânicos e meteorológicos sobre o Atlântico Tropical, alimentando centros mundiais de previsão de tempo e clima do planeta, além de prever anomalias climáticas que afetam as atividades humanas em terra e mar.

Atualmente, além do PIRATA, há outros projetos em desenvolvimento. Um deles é a Rede de Modelagem e Observação Oceanográfica (REMO), em parceria com a Petrobras, com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com a Universidade Federal da Bahia (UFBA). O foco do projeto é a integração de dados observacionais e de modelagem meteoceanográfica para a oceanografia operacional. Também está em produção o Programa Nacional de Boias (PNBOIA), responsável pela manutenção de boias meteoceanográficas em águas brasileiras, coletando dados importantes para previsão ambiental e climática.
A Superintendente de Meteorologia e Oceanografia do CHM, Capitão de Fragata (Quadro Técnico) Gisele dos Santos Alves, reforça o papel da DHN na produção de informações cartográficas, hidrográficas e do clima ‒ fundamentais para a navegação. A atuação da Diretoria é regulamentada por meio de leis e decretos presidenciais, além de envolver a coleta e o armazenamento de informações. O apoio à pesquisa científica também constitui um dos pilares.
Entre os pontos de importância da atuação da DHN e das organizações militares subordinadas, destaca-se o fomento à pesquisa tecnológica e científica nacional por meio do embarque de pesquisadores, doutorandos, mestrandos e graduandos, parcerias acadêmicas e desenvolvimento de tecnologias para mapeamento e monitoramento do ambiente marinho, fortalecendo a capacidade científica do Brasil no campo marítimo e integrando o Brasil a redes internacionais de monitoramento, permitindo a troca de informações em tempo real com a comunidade científica global”, completou a militar.
A DHN conta com o Grupamento de Navios Hidroceanográficos, que opera nove navios de pesquisa, incluindo o “Vital de Oliveira” — considerado o mais completo do País para esse fim — e dois navios polares que atuam na Antártica: o “Almirante Maximiano” e o “Ary Rongel”. O trabalho também é desenvolvido em parceria com instituições civis. Participam dos projetos órgãos como Petrobras (CENPES), EMGEPRON, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), além de universidades e centros de pesquisa, como INPE, IOUSP, FURG, UFRJ, UFBA, UFPE, UFSC e UERJ.
Navios de pesquisa
A Marinha do Brasil mantém uma frota especializada de navios hidroceanográficos, conhecidos como “navios brancos”, que operam além dos típicos navios de combate. Essas embarcações são utilizadas pela Diretoria de Hidrografia e Navegação para realizar mapeamento de rotas, levantamentos hidrográficos, monitoramento ambiental e produção de cartas náuticas essenciais à segurança da navegação, tanto no oceano quanto em rios e na Amazônia.
Equipada com tecnologia avançada — como ecobatímetros multifeixe, sonares de varredura lateral e sistemas de posicionamento de alta precisão — a frota funciona como um laboratório flutuante. Um exemplo é o Navio de Pesquisa Hidroceanográfico “Vital de Oliveira”, que em janeiro de 2025 localizou o único navio de guerra brasileiro torpedeado e afundado durante a Segunda Guerra Mundial, demonstrando a capacidade de realizar descobertas científicas relevantes.
Além das finalidades acadêmicas, os navios hidrográficos desempenham outras funções voltadas à segurança da navegação. Eles atuam no balizamento de canais, instalação de boias, suporte a salvamentos marítimos, emissão de previsões de marés e correntezas e apoio em operações de reconhecimento ambiental para fins de defesa, inclusive em cenários de guerra de minas e de operações anfíbias. Essa versatilidade reforça a soberania brasileira nas águas da Amazônia Azul e na Antártica, além de fomentar a formação de novos profissionais nas áreas das ciências do mar, necessários para a continuidade das pesquisas de alta qualidade sobre o oceano.
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