Há exatos 50 anos, as Nações Unidas celebraram pela primeira vez o Dia Internacional da Mulher. A escolha do 8 de março foi inspirada na conquista do direito de voto pelas mulheres russas em 1917 e, desde então, a data tornou-se um momento de reflexão sobre a evolução da presença feminina na sociedade. Ao longo desse período, as mulheres ampliaram sua atuação em espaços antes exclusivos dos homens, incluindo as Forças Armadas. No Brasil, elas seguem conquistando novos territórios e já estão presentes em todos os Corpos e Quadros da Marinha, até mesmo nos mais operativos.
O assunto é objeto de estudo da professora de Direito da Universidade Federal do Tocantins, Graziela Tavares de Souza Reis, que contribuiu com discussões sobre o tema em diferentes edições do Congresso Acadêmico de Defesa Nacional, organizado anualmente pela Escola Superior de Defesa. Segundo ela, a restrição à participação feminina nas Forças Armadas, assim como em outros ambientes predominantemente masculinos, tem raízes culturais, que associavam a figura da mulher aos espaços domésticos e aos papéis de cuidadora.
Combatendo estereótipos
“Permitir que elas estivessem em outros espaços públicos, civis ou militares, quebraria essa lógica cultural. Então, talvez até para justificar e mantê-la, criou-se uma ideia de que as mulheres seriam frágeis, do mesmo modo que se criou uma falsa ideia de que padeciam de racionalidade. Isso se sustentava, por exemplo, não permitindo que elas pudessem estudar ou chegar de forma igualitária nas ciências”, explica a professora, que percebe uma ruptura gradual dessa crença.

Quando as oportunidades se apresentam, elas mostram que não se enquadram em estereótipos. A resposta ao concurso para a primeira turma mista de formação de Soldados Fuzileiros Navais, até então única carreira operativa da Força Naval inacessível à participação feminina, é exemplo disso. Mais de 5 mil concorreram no ano passado às cerca de 120 vagas. O mesmo número de candidatas se inscreveu este ano para as vagas do Colégio Naval, instituição de Ensino Médio da Marinha do Brasil (MB), e já passam de 7 mil as jovens alistadas no inédito Serviço Militar Inicial Feminino.
Conquista atrás de conquista
Para a Soldado (Fuzileiro Naval) Fabiana Damasceno egressa daquela primeira turma e que se tornou, em fevereiro deste ano, a primeira mulher a conquistar o distintivo do Estágio de Qualificação em Operações no Cerrado, em Brasília (DF), essas vitórias poderão inspirar futuras gerações. “Eu não imaginava que seria a primeira, mas diante disso eu enxergo que a partir de mim virão outras mulheres que enxergarão que é possível, desde que haja muito esforço e muita dedicação”, afirma.

Quem também faz história na Marinha ao seguir sua vocação militar é a Segundo-Tenente Catarina Oliveira Dowsley Fernandes, primeira mulher a integrar o Quadro Complementar do Corpo da Armada. “Ser militar sempre foi um sonho desde quando era adolescente. Para mim, significa sacrificar sua vida em prol de algo muito maior que si mesmo: sua nação. Esse sentimento representa para mim a realização de viver por um propósito nobre”, acredita ela, que concluiu, em janeiro deste ano, o Curso de Formação de Oficiais, no Rio de Janeiro (RJ).

A Segundo-Tenente Catarina, que já era graduada em Engenharia Eletrônica e da Computação, pode agora servir nos diversos navios de guerra da MB, exercendo funções de condução, operação e manutenção dos meios navais. “As mulheres têm capacidade intelectual para desempenhar qualquer papel nas Forças Armadas e em qualquer instituição. Mais do que tudo, precisam acreditar que podem fazer o que quiserem!”, garante a Segundo-Tenente, que reconhece a importância do caminho aberto pelas primeiras mulheres nas Forças Armadas para que outras pudessem segui-lo.
No topo
Algumas dessas pioneiras estão, hoje, alcançando alto círculo da hierarquia militar naval. É o caso da Capitão de Mar e Guerra (Médica) Daniella Leitão Mendes, atual Vice-Diretora da Diretoria de Saúde da Marinha, que deve ser promovida a Contra-Almirante no dia 31 de março. “É para mim um grande orgulho ter a oportunidade de representar o segmento feminino da tripulação, que é tão importante, e, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade”, afirma a Oficial, que tem 29 anos de carreira.

A história das mulheres na Marinha começou com o Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha, criado em 1980, que contava com cerca de 300 militares de níveis superior e técnico, recrutadas principalmente para exercer funções administrativas. Atualmente, elas representam 12,6% da força de trabalho da MB, incluindo servidoras civis e militares, tanto de carreira quanto temporárias, em todos os Quadros e Corpos. Esse número deve aumentar nos próximos anos, com a sua inclusão em carreiras operativas, como a da Armada e a de Fuzileiros Navais.
Segundo a professora de Direito da Universidade Federal do Tocantins, a alta demanda das mulheres pela carreira nas Forças Armadas é uma clara constatação da premissa cultural em declínio. “Essa é a grande discussão das teorias igualitárias de direitos: que elas tenham autonomia sobre seus planos e sua participação na sociedade. É uma presença ainda nova e toda mudança traz desafios, rupturas. É um processo que demanda boa vontade, lealdade, boa-fé de todos que estão envolvidos”, avalia.
Comentários
Que show!!!!!! Parabéns a todas as mulheres!!!
Gostaria de saber porque as forças aramadas não estendem a idade para entrar na carreira militar? Tenho 44 anos, vou fazer 45. Gostaria muito de poder entrar na marinha, sou enfermeira!
O que eu passei dentro do quartel do exército por eu ser negra, mulher e por eu ter me posicionado em dizer NÃO para favorzinho de superiores. Em 2020 só tinha uma vaga para tsb e essa foi minha. Conquistada em processo seletivo( inscrição, experiência atuada, prova, exames odontológicos e médicos em perfeitas condições, exercícios físicos e adaptação). Hoje me encontro com problemas de saúde, lutando na justiça por ter sido desligada em tratamento e sem motivação do desligamento.
Sofri abuso, constrangimento e racismo ( a fala do abusador foi que meu tipo não sobe e que não era nem para eu estar naquele lugar).
Tenho total condição de falar com detalhes tudo que eu passei dentro do ambiente militar. Quero justiça e reparo dos danos que me causaram. Eu quero a minha saúde de volta.
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