“À memória dos que não voltaram da Batalha do Atlântico”. É assim, com essa dedicatória, que começa a nova edição do livro A Bordo do Contratorpedeiro Barbacena, lançada nesta quinta-feira (8), em cerimônia realizada no Espaço Cultural da Marinha, no Rio de Janeiro (RJ). O evento, que celebrou os 80 anos da vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, teve como foco principal a preservação da memória naval brasileira.

A escolha do cenário para o lançamento reforça a ligação entre a obra e os feitos históricos da Marinha do Brasil. Escrito pelo Vice-Almirante João Carlos Gonçalves Caminha, A Bordo do Contratorpedeiro Barbacena retrata o cotidiano de uma tripulação em meio às incertezas da guerra. A nova edição, dividida em três volumes, combina fatos verídicos com elementos ficcionais. A proposta do lançamento é oferecer uma leitura envolvente e acessível, reunindo suspense, humor, fatos históricos e lições de liderança vividas a bordo.

Ao assinar a contracapa, o Embaixador de Comunicação Estratégica da Marinha, Flávio Augusto da Silva, explica que navegar pelas páginas da obra é “embarcar em uma jornada genuinamente brasileira, onde a liderança se destaca em meio ao caos“. Empresário e fundador de uma das maiores plataformas de educação empreendedora do País, Flávio Augusto também destaca o potencial do conteúdo para impactar públicos além da esfera militar. “As lições deste livro vão muito além dos combates navais, oferecendo insights valiosos sobre como uma liderança firme e visionária pode transformar crises em oportunidades — seja nos mares ou no mundo dos negócios. (...) Não é apenas uma leitura cativante para veteranos e jovens empreendedores, mas também um alerta para que todos compreendam a importância estratégica da Amazônia Azul na geração de valor para o Brasil e para todos os brasileiros."

A publicação traz ainda um prefácio assinado pelo Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, que também compareceu ao evento. No texto, o Almirante cita a importância do resgate histórico para a formação cidadã e o fortalecimento da cultura marítima nacional. Segundo ele, os acontecimentos narrados pelo autor conduzem o leitor à reflexão sobre “a importância de o País dispor de uma Força Naval crível e compatível com a estatura de seu patrimônio no mar (...) As atividades econômicas relacionadas 'às coisas do mar' representam expressiva parcela do PIB brasileiro — uma riqueza essencial para o desenvolvimento e prosperidade do País, que demanda prontidão, monitoramento e proteção.“

O tema também foi abordado pelo Comandante da Marinha em entrevista concedida após o encerramento da cerimônia. Ao comentar a importância estratégica do mar para o País, o Almirante ressaltou que muitas das ações desenvolvidas “além do horizonte” não recebem a devida visibilidade, em razão de uma mentalidade ainda predominantemente terrestre.

“É preciso (...) o entendimento de que o Brasil é inviável sem o uso do mar. Ali está toda a economia — 97% das nossas exportações ocorrem por rotas marítimas, 97% do petróleo e 83% do gás são transportados por via marítima. 54% da população reside em uma faixa de 150 quilômetros do litoral, e 70% do nosso turismo está associado ao sol e ao mar (...) temos uma indústria oceânica que representa a sétima maior economia do mundo. Portanto, há muito a ser explorado no ambiente marítimo. (...) O Brasil não pode estar despreparado para isso.”

Para o sobrinho do autor, Frederico Schramm Roth, a reedição do livro representa uma homenagem. De acordo com ele, é uma satisfação para a família “poder liberar os direitos autorais para que essa obra fosse aproveitada, inclusive em vários formatos que, quem sabe, poderão vir por aí." 

“É uma honra muito grande estar aqui representando a família do Almirante Caminha. A gente olha o livro sendo relançado e fica imaginando ele, na escrivaninha dele, (…) escrevendo. Então é uma memória emocionante até. E é uma memória viva de uma história interessantíssima, um livro de uma fluidez de leitura enorme e que conta histórias (…) da vida marítima que ele de fato viveu em 40 anos de carreira”, explicou durante o lançamento.

Vital: Memórias que não naufragaram

O evento também marcou a exibição do teaser do documentário Vital: Memórias que não naufragaram, uma realização do Centro de Comunicação Social da Marinha que tem data prevista de lançamento para setembro deste ano. A produção parte da descoberta recente do local exato do naufrágio do Navio-Auxiliar “Vital de Oliveira”, torpedeado por um submarino alemão em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, e apresenta imagens e depoimentos inéditos.

Um dos trechos mais emocionantes é protagonizado pelo veterano e sobrevivente do naufrágio, Tenente Girgazes Agostinho de Brito. Membro da tripulação, ele relembra o momento exato em que o navio foi atacado. “Era 11h55 do dia 19 de julho (...). Eu dormia e fui acordado para entrar na Praça de Máquinas como eletricista. Houve a explosão e, como o navio era a vapor, fiquei imaginando que a caldeira houvesse explodido. Eu disse bem alto: ’Senhor, eu vou morrer sem ver minha mãe?’. Um colega ouviu minha voz. Ele já estava na balsa e falou: ’vem para cá, Girgazes!’. Era um alagoano e eu queria vê-lo aqui comigo, agora”, se emocionou ele.

Cerimônia

Durante a cerimônia, que contou com a presença de autoridades militares e civis, além de veteranos e de familiares do autor do livro, foi realizada uma homenagem com flores junto ao Navio-Museu “Bauru” — único sobrevivente nacional da classe Bertioga e símbolo da bravura dos marinheiros brasileiros. A embarcação, que serviu como Contratorpedeiro de Escolta, participou de missões de patrulha e escolta de navios mercantes, protegendo comboios aliados contra os submarinos inimigos que atuavam na região da costa brasileira. Esse tipo de navio era projetado para defender embarcações maiores contra ameaças submarinas e aéreas, sendo peça-chave na estratégia naval durante a Segunda Guerra Mundial. 

O Diretor do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, Vice-Almirante Gilberto Santos Kerr, ressaltou o fato de o lançamento de A Bordo do Contratorpedeiro Barbacena, por intermédio da Editora Letras Marítimas, acontecer justo junto ao “Bauru”, “verdadeiro testemunho da bravura e heroísmo dos homens do mar que lutaram na Batalha do Atlântico, e palco de algumas cenas imortalizadas pelo escritor e Almirante Caminha, trazendo a todos a possibilidade de interagir com a cultura naval que tanto tem a contribuir com nossa sociedade."

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