“Existem três tipos de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar". A frase, atribuída a Platão, pode trazer reflexão acerca do trabalho realizado pelos homens e mulheres do mar. Afinal, o oceano que une os distintos e colabora com a conexão entre muitos, também se torna, muitas vezes, palco de diferentes disputas. Para os mortos da Marinha em guerra, seu local de descanso. Apesar de notoriamente ser um País pacífico, o Brasil participou, desde a Independência, de diversos conflitos, batalhas e guerras. Foi na manhã de 21 de julho de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, que a Corveta “Camaquã”, da Marinha do Brasil (MB) afundou. O pequeno navio de guerra, originalmente concebido como navio mineiro, o menor dos três perdidos pela MB naquele conflito, naufragou durante operação de escolta ao comboio JT-18, vitimando 33 homens. A data passou a representar um marco e a homenagem para todos os marinheiros que sacrificaram suas vidas defendendo o país no mar, em conflitos como o da Independência, da Cisplatina, do “Tonelero”, do “Riachuelo” e do “Humaitá”, além da Primeira Grande Guerra e, ainda, a Segunda Guerra Mundial.

De acordo com o Comandante do 1º Distrito Naval, Vice-Almirante Thadeu Marcos Orosco Coelho Lobo, a Marinha começou a defender o Brasil na Baía de Guanabara, ainda durante a expulsão da França Antártica. “Depois, nós tivemos a Guerra da Independência e sem a Força Naval o Brasil não teria a unidade costeira que tem hoje. Tivemos a Guerra do Paraguai, com nosso Patrono, Almirante Tamandaré, e grandes outros heróis da Pátria, (…) a Primeira Guerra Mundial e a Segunda, (...) com a Batalha do Atlântico, que tem um significado especial porque foi a única lutada aqui, no nosso mar territorial, por brasileiros escoltando comboios que estavam sendo atacados, garantindo não só um esforço de guerra, mas também as exportações de matéria-prima e que o brasileiro conseguisse continuar vivendo e o país continuasse se desenvolvendo. Nesta data, então, nós honramos aqueles que pereceram em batalha, aqueles que, na Marinha, estão em eterna patrulha. Os heróis que nos inspiram e nos mostram o caminho“, ressaltou o Vice-Almirante Lobo.

O Ex-Combatente da Segunda Guerra Mundial, Primeiro-Tenente José Osório de Oliveira Filho, de 101 anos, entrou para a Marinha em 1941, quando foi para a antiga Escola de Grumetes Almirante Batista das Neves, em Angra dos Reis (RJ). “A Marinha foi a minha verdadeira casa. Um ano depois, eu já estava embarcado no Encouraçado “São Paulo”, servindo ao meu país durante a guerra. Ali fiquei 2 anos, 9 meses e 14 dias (...) e trabalhei na artilharia antiaérea. Também participei dos comboios que faziam o patrulhamento da costa”, lembrou.

“Quando a guerra terminou, tive a sorte de ter sobrevivido, graças a Deus. Aí fiz curso de radiotelegrafista, morei em Natal (RN), servi no Navio “Almirante Saldanha”, conheci diferentes países. Sobrevivi à Guerra, a um furacão na Noruega e até a uma pane elétrica em um submarino. Foram 25 anos na ativa“”, contou o Tenente Osório. “A celebração desta data é muito importante porque dá força para a mocidade enfrentar os males em defesa da nossa pátria. Nós passamos por esse perigo. Infelizmente, muitos faleceram, mas acho que a vida é assim mesmo, é luta – desde que você começa até o final“”, finalizou o veterano.

Cerimônia em Memória aos Mortos da Marinha em Guerra

No dia 24 de julho, ocorreu, no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Rio de Janeiro (RJ), a cerimônia anual em memória aos mortos da Marinha em guerra, que homenageia os heróis do passado. Durante o evento, foram realizados os toques de alvorada e vitória, simbolizando o reconhecimento de todos os que se imortalizaram no mar, prestando serviços à Pátria, além das tradicionais aposição das coroas de flores e descargas de fuzilaria. Ao final, a Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais se apresentou com a evolução de figuras relativas ao tema.

Estiveram presentes o antigo Ministro da Marinha, Almirante de Esquadra Mauro Cesar Rodrigues Pereira, os antigos Comandantes da Marinha, Almirantes de Esquadra Roberto de Guimarães Carvalho, Julio Soares de Moura Neto e Ilques Barbosa Júnior, entre outros Oficiais Generais da Marinha, do Exército e da Força Aérea Brasileira, além de ex-combatentes da Marinha do Brasil e representantes das Forças Armadas, das Forças Auxiliares, da Marinha Mercante, da comunidade marítima, alunos do Colégio Militar do Rio de Janeiro e escoteiros do mar.

Kalleb Gabryell Magalhães Silva, aluno do terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Militar do Rio de Janeiro, afirmou a importância de eventos como este, que relembram novas gerações não apenas sobre a memória dos heróis nacionais, mas, inclusive, sobre a existência desta parte da história do Brasil desconhecida por muitos. “Nós estamos muito honrados em vir homenagear os combatentes de toda a força nacional brasileira, tanto a Marinha, representada nesta data, quanto o Exército e a Aeronáutica. A data é muito importante para homenagear todos que lutaram pela construção do nosso país desde o Império até a República“, disse.

Durante seu discurso, o Presidente do Centro dos Capitães da Marinha Mercante, Capitão de Longo Curso Plínio Rodrigues Calenzo ressaltou que todos os anos, há cerca de duas décadas, são proferidas palavras em homenagem àqueles que deram, em defesa do Brasil, seu bem mais valioso: a vida. “Pouquíssimas profissões são tão semelhantes quanto aquelas que envolvem o homem do mar: desde o mais simples pescador artesanal de mar aberto até o Comandante do navio mais moderno do mundo (…) o mar é comum a todos. E essa comunhão no mar não poderia ser diferente nos tempos de guerra.  O mar une as nações e é justamente por isso que em tempos de guerra as nações tentam cerceá-lo às demais nações, privando, assim, os bens de consumo de chegarem ao seu destino, levando fome e escassez de recurso aos outros. Os homens e mulheres do mar sabem que muitos dependem da sua dedicação a bordo de seus navios. É esse conhecimento e certeza que os fazem se lançar ao mar em períodos turbulentos – para garantir que as riquezas da esperança não parem de alcançar aqueles que necessitam”, disse o Capitão Plínio Calenzo. “Recentemente, quando muitos brasileiros precisaram deixar suas casas no Rio Grande do Sul, por ocasião das enchentes, foram os navios brasileiros que garantiram o pronto abastecimento para aqueles que não puderam sair da região afetada”, reforçou.

Veja o vídeo com os principais momentos da cerimônia:

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