A Marinha do Brasil (MB), por meio da Secretaria Naval de Segurança Nuclear e Qualidade (SecNSNQ), participou do maior e mais complexo exercício internacional de emergência nuclear já organizado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A atividade, denominada ConvEx-3, simulou um grave acidente na Usina Nuclear de Cernavoda, na Romênia, no contexto de uma sequência de desastres provocados por um terremoto simulado de magnitude 7,3. Realizado ao longo de 36 horas ininterruptas, nos dias 24 e 25 de junho, o exercício contou com a participação de 76 Estados-Membros e 11 organizações internacionais, com o objetivo de testar estruturas de resposta nacionais e globais diante de uma situação nuclear severa.

O ConvEx-3 é realizado a cada quatro anos, sempre em um Estado-Membro, configurando-se como um exercício internacional conjunto em grande escala. Seu foco está nas ações de resposta durante a fase inicial de emergências nucleares ou radiológicas graves. Além de testar essas respostas, busca avaliar o sistema internacional de gestão de crises, identificar boas práticas e apontar fragilidades em áreas que dificilmente seriam reconhecidas em situações rotineiras.

Neste ano, pela primeira vez, o ConvEx-3 introduziu inovações significativas, como o fortalecimento da cooperação regional para alinhar medidas de proteção entre países vizinhos. Também incluiu cenários envolvendo riscos à segurança nuclear, abrangendo a proteção física de instalações e a defesa contra ameaças cibernéticas. Outro destaque foi a adoção de uma metodologia mais unificada, com simulações aprimoradas de comunicação em crises, utilizando uma plataforma expandida que reproduz o ambiente das redes sociais.

Brasil atua no ConvEx-3 com integração nacional e presença internacional

Esta foi a sétima edição desse tipo de exercício promovido pela AIEA. O Brasil participou por meio da SecNSNQ, que passou a ser reconhecida no início deste ano como Autoridade Competente Doméstica pela Agência. A atuação da Secretaria ocorreu tanto presencialmente, na Romênia, quanto remotamente, a partir das instalações do Centro de Acompanhamento de Resposta a Emergências Nucleares e Radiológicas Navais (CARE/SecNSNQ), no Rio de Janeiro.

Paralelamente, especialistas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) acompanharam o exercício nas instalações da Coordenação de Resposta a Acidente Nuclear (CORAN), no Rio de Janeiro. Já o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI-PR) atuou a partir do Centro Nacional de Gerenciamento de Emergência Nuclear (CNAGEN), em Brasília. Para assegurar a comunicação direta entre os órgãos, a SecNSNQ designou um representante ao CNAGEN, contribuindo para a resposta integrada do Brasil no ConvEx-3.

Na Romênia, o Superintendente de Operações da SecNSNQ, Contra-Almirante  (Reserva) Paulo Cesar Demby Corrêa, foi um dos 18 observadores internacionais, de 16 países, que acompanharam o ConvEx-3 presencialmente em Bucareste, a partir do Centro Nacional de Controle de Atividades Nucleares (CNCAN), órgão regulador nuclear local. O programa, vinculado ao ConvEx-3 e denominado “Observers Tour”, reuniu representantes de Estados-Membros da AIEA para monitorar em tempo real os cenários simulados.

Simulação consolida protocolos e destaca compromisso do Brasil

No contexto do ConvEx-3, a SecNSNQ foi acionada pela coordenação do exercício para testar medidas de segurança radiológica em um navio simulado que navegava nas proximidades da usina e foi atingido pela contaminação decorrente do acidente. O objetivo foi avaliar a eficácia das medidas adotadas para proteger vidas humanas e o meio ambiente em uma situação de alto risco.
 

Dessa forma, os especialistas da Marinha testaram procedimentos voltados ao monitoramento radiológico imediato, ao isolamento da área e à descontaminação completa, além da administração de iodeto de potássio aos tripulantes contaminados, com o objetivo principal de bloquear a absorção de iodo radioativo pela glândula tireoide, reduzindo o risco de câncer de tireoide e outras lesões. Foram realizados ainda o reboque da embarcação atingida para local seguro e o suporte à comunicação com a imprensa e as autoridades.

O Secretário Naval de Segurança Nuclear e Qualidade, Almirante de Esquadra (Reserva) Petronio Augusto Siqueira de Aguiar, comemorou a participação do Brasil no ConvEx-3, que, segundo ele afirmou, reforçou o compromisso do País com a pronta resposta a emergências nucleares e radiológicas, em consonância com os padrões internacionais estabelecidos pela AIEA. “A SecNSNQ, em ação conjunta com a CNEN e o GSI-PR, participou ativamente nesse exercício, reforçando nosso compromisso com a segurança e a prontidão para emergências nucleares em cenários marítimos ou fluviais. Essa simulação foi uma oportunidade valiosa para aprimorarmos protocolos, integrarmos ações com parceiros globais e garantir que os nossos sistemas de resposta estejam alinhados com os mais altos padrões internacionais.”

O exercício abrangeu aspectos que vão desde a comunicação de crise até a coordenação entre autoridades nacionais e organismos multilaterais, fortalecendo a cooperação em cenários complexos. “Aprendizados como esses são essenciais para proteger vidas, o meio ambiente e garantir a operação segura de embarcações em contextos de risco de contaminação radiológica”, completou o Almirante.

A experiência adquirida nesses exercícios permite que a Marinha aperfeiçoe seus protocolos, identifique vulnerabilidades e fortaleça a cooperação com outros países, assegurando que, em uma situação real, o Brasil não seja apenas um espectador, mas um protagonista na resposta global a crises nucleares. A presença brasileira no ConvEx-3 consolida a reputação do País como parceiro confiável e capacitado.

Créditos fotos: Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e Capitão-Tenente (Jornalista) Isabella Feitosa.

Colaboração na construção do texto: Contra-Almirante (Reserva) Paulo Cesar Demby Corrêa.

Comentar

O conteúdo deste campo é privado e não será exibido ao público.

Texto puro

  • Nenhuma tag HTML permitida.
  • Quebras de linhas e parágrafos são feitos automaticamente.
  • Endereços de página da web e endereços de e-mail se tornam links automaticamente.