A Marinha do Brasil (MB), por meio do Serviço de Sinalização Náutica do Leste (SSN-2), subordinado ao Comando do 2º Distrito Naval, coordenou a operação de retirada das cabras da Ilha de Santa Bárbara, no Arquipélago dos Abrolhos, no Sul da Bahia. Os 23 animais viviam de forma isolada na ilha e foram transferidos para o campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), em Itapetinga. Acredita-se que os primeiros animais tenham sido deixados no local por navegadores, durante o período colonial, há mais de 200 anos, como forma de garantir a subsistência durante suas expedições.

A ação contribui para as pesquisas científicas na área e foi necessária para mitigar o impacto ambiental causado por esses animais no solo e na vegetação da ilha, um santuário de reprodução de aves que só existem naquela localidade. A operação contou, ainda, com a participação de diversas instituições, incluindo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Embrapa, a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB) e a UESB. Aproximadamente 20 pessoas participaram da transferência das espécies, que contou com apoio de embarcações e militares.

Os pesquisadores consideram as cabras um tesouro genético, pois conseguiram se adaptar a um ambiente com escassez de água, já que a Ilha não possui fontes de água doce. O professor Ronaldo Vasconcelos, do curso de Zootecnia, que estuda conservação de recursos genéticos, explica que essa adaptação pode estar relacionada a características específicas do DNA da espécie. “Imagine um material genético que se desenvolveu em uma ilha sem água. Esses animais carregam, em sua genética, um componente que permitiu essa sobrevivência. Esperamos que isso seja confirmado pela ciência”, comenta o professor.

Essa característica pode ser essencial para pesquisas voltadas ao manejo e à reprodução de caprinos em regiões semiáridas. Segundo Ronaldo, entender os genes responsáveis por essa resistência pode trazer benefícios significativos. “Esses genes podem melhorar o desempenho de animais do continente, tornando-os mais resistentes em áreas com escassez de água. Além disso, esse material genético pode ser valioso para pequenas propriedades rurais”, explica. Ao chegarem ao campus, os animais foram colocados em quarentena, permitindo acompanhar a adaptação ao novo ambiente e assegurar os cuidados sanitários necessários. “Precisamos adaptar esses animais ao ambiente continental, pois, na Ilha, eles estavam expostos a uma luminosidade, umidade e ventos diferentes dos que temos aqui”, destaca Ronaldo.

Caso seja confirmada a singularidade genética dos animais, a Embrapa e a UESB deverão iniciar um plano de conservação, que incluirá a ampliação do rebanho, armazenamento de material genético (sêmen e embriões) e a distribuição para produtores rurais.

Parcerias científicas e preservação

O Arquipélago dos Abrolhos é composto pelas seguintes ilhas: Santa Bárbara, Redonda, Siriba, Sueste e Guarita. Sob jurisdição da MB, a Ilha de Santa Bárbara é a única habitável, localizada no arquipélago a cerca de 65 km de Caravelas (BA). Sob o comando do SSN-2, a guarnição que serve na ilha desempenha o monitoramento de embarcações, a salvaguarda do patrimônio histórico-cultural da ilha e a manutenção do Radiofarol de Abrolhos. As demais ilhas fazem parte do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, de responsabilidade do ICMBio.

O Encarregado do SSN-2, Capitão de Fragata Douglas Luiz da Silva Pereira, destaca que o grupo de militares lotados no local dedica-se, diariamente, a preservar o meio ambiente marinho e garantir a segurança da navegação dessa região, mantendo em funcionamento, de forma ininterrupta, o Radiofarol de Abrolhos, estabelecido em 1861. “A parceria com a comunidade científica é fundamental para proteger a maior biodiversidade marinha do país. No passado, os caprinos serviam como fonte de proteína animal. Atualmente, com os recursos da vida moderna e o apoio logístico prestado bimestralmente pela MB aos militares que guarnecem a Ilha de Santa Bárbara, a presença dos animais — considerados uma espécie exótica invasora — tornou-se desnecessária”, explica.

Com a finalidade de impulsionar as pesquisas científicas, a Marinha apoia o ICMBio. Na ilha de Santa Bárbara, há um espaço dedicado à equipe de pesquisadores e cientistas, cujo ambiente proporciona uma base estratégica para que os especialistas do Instituto possam se concentrar em seus estudos, permitindo uma presença contínua na ilha e facilitando o desenvolvimento de projetos de pesquisa.

Fotos: Jessyca Teixeira — ICMBio Abrolhos e Divulgação
Com informações da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

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Comentários

PEDRO PAULO VI… (não verificado) Qui, 13/03/2025 - 18:19

Estou encantado, com este trabalho.
Viva a Ciência. Viva a Marinha...
Viva a Marinha do Brasil...

Valeria (não verificado) Sex, 14/03/2025 - 08:12

Estranho mais de 200 anos e só 23 animais. Ou os animais não têm nenhuma genética para cria ou comeram as cabras.

Wilson (não verificado) Sex, 14/03/2025 - 13:29

As cabras estão lá, segundo eles, a mais de 200 anos, portanto não se pode dizer que é uma espécie invasora, pois, já adaptaram nesse meio ambiente. Agora retiraram todas com o argumento de preservar o patrimônio genético e a espécie, mas a retiraram do seu "meio" elas se adaptarão ao novo " meio", portanto diferentes das atuas.

Suboficial da … (não verificado) Dom, 16/03/2025 - 08:28

Comandei o Rádio Farol de Abrolhos na ilha de Santa Bárbara por 12 anos, na época existia na faixa de 180 animais e em tempo de mau tempo, que as vezes durava semanas, as cabras servia como alimentos para a sobrevivência fda guarnição. Cheguei na época que não tinha ninguém do Ibama, era verdadeiramente um paraíso, não existia o turismo. Com a chegada do pessoal do Ibama, houve uma divulgação enorme e invasão do turismo, assim perturbaram a vida águatica e as aves nas ilhas. As cabras viviam em harmonia com as aves. Mas o objetivo não era só tirar os animais da ilha e sim acabar, retirar o pessoal da Marinha do local e fazerem ponto turístico na ilha de Santa Bárbara, inclusive estudo de fazerem hotéis na ilha e isso com o tempo eles vão conseguir. Se fosse para preservar a natureza cortava o turismo em Abrolhos. " Abrolhos é só para quem sabe Amar" Sub
Silvino, a Lenda dos Abrolhos

Jairo (não verificado) Dom, 16/03/2025 - 10:16

CONCORDO COM O VELHO GUERREIRO. MEU AMIGO SILVINO. POR TRÁS DESSE FALSO CUIDADO CIENTIFICO, TEM MALANDRAGEM. INDEPENDENTE DA TECNOLOGIA, ABROLHOS TEM QUE SER RESPEITADO. JA TRABALHEI POR VARIAS VEZES NESSE PARAISO.

MARCELO BALZAN (não verificado) Dom, 06/04/2025 - 22:23

Se querem salvar a genética da espécie faz uma retirada parcial algo em torno de dez ou vinte membros, o resto deixa lá faz acompanhamento e até documentários isso é um valor incalculável evolutivamente falando. Tem potencial de salvar vidas em regiões desertas.

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