Desde a criação do Serviço Radiotelegráfico da Marinha, em 28 de março de 1907, até a incorporação de novas tecnologias como redes de dados de alta frequência, fibras ópticas, rádio enlaces e comunicação satelital, as Comunicações Navais desempenham papel central nas operações da Marinha do Brasil (MB), permitindo a coordenação precisa de unidades no mar e em terra, e o exercício eficaz das ações de comando e controle.
Cada navio tem sua própria estação rádio que possibilita sua comunicação com outros navios, aeronaves e com suas bases em terra. Mas parte significativa das comunicações entre terra e mar é processada pelas Estações Rádio da Marinha, Organizações Militares especializadas em Comunicações Navais, distribuídas em todas as regiões do País.
Além de possibilitar a troca de informações entre as unidades operativas e organizações de comando e apoio, algumas das Estações Rádio da Marinha executam um serviço essencial à obtenção da correta consciência situacional dos espaços marítimos por parte dos comandos navais: a radiogoniometria, técnica com a qual é possível determinar a posição de uma estação ou objeto emissor com base em um referencial conhecido.
O Sistema Integrado de Radiogoniometria (SIR) da Marinha opera a partir da interconexão entre quatro estações que trabalham em conjunto na busca, localização, monitoramento e interceptação de comunicações, particularmente na faixa de Alta Frequência (HF), cujas ondas de rádio são usadas para comunicação de longo alcance, transmitidas em frequências que vão de 3 e 30 mega-hertz (MHz).
No coração dessas operações de monitoramento da Marinha do Brasil, encontra-se a Estação Radiogoniométrica da Marinha em Campos Novos (ERMCN), localizada, estrategicamente, no município de Cabo Frio (RJ) e subordinada ao Comando do 1º Distrito Naval. Ela opera como a Estação Controladora da Rede (ECR), em conjunto com as Estações Radiogonométricas da Marinha em Natal (RN), Belém (PA) e Rio Grande (RS).
Visita do Comandante do 1° Distrito Naval, Vice-Almirante Arruda, ao SIR – Imagem: 1° SG-MR Thiago
Na ERMCN, uma equipe de operadores especializados se dedica à gravação e análise detalhada das emissões na faixa de HF, fornecendo importantes informações para a Marinha. Em estreita colaboração com as outras Estações Radiogoniométricas do SIR, os operadores conseguem localizar essas emissões, permitindo o rastreamento preciso de alvos de interesse.
O Comandante da Estação Radiogoniométrica da Marinha em Campos Novos, Capitão de Corveta Jorge Claudio Torres Motta Junior, explica que “o uso militar da radiogoniometria iniciou-se com a American Air Force, em 1940, na faixa de frequência em VHF (frequência muito alta), que permitia a obtenção de posicionamento de aeronaves a curtas distâncias. Com a evolução dos sistemas, há, hoje, outros meios simples de localização, como o AIS (Sistema de Identificação Automática), que, no entanto, provocam maior indiscrição ao contato de interesse. As antenas em HF são preferidas pelo baixo custo e possibilidade de comunicação a longa distância, por utilizar a ionosfera como meio de propagação”.
O Capitão de Corveta Jorge Claudio destaca, ainda, que a ERMCN acompanha as comunicações e posicionamento de embarcações e aeronaves, contribuindo para o controle do tráfego marítimo e a vigilância das águas jurisdicionais brasileiras. “Além de efetuar buscas de Estações, fixas ou móveis, de transmissão em alta frequência, em operações de busca e resgate, as Estações Radiogoniométricas de Alta Frequência desempenham um importante papel na interceptação de comunicações suspeitas de embarcações que possam comprometer a soberania nacional”, explica.
Tripulação da ERMCN integra um time de verdadeiras sentinelas das radiofrequências – Imagem: Marinha do Brasil
Devido ao monitoramento meticuloso, a Estação Rádiogoniométrica da Marinha em Campos Novos e as demais Estações que integram o Sistema Integrado de Radiogoniometria desempenham um papel significativo na detecção de atividades hostis ao interesse nacional no mar. “O SIR da MB colabora sobremaneira para a aplicação das leis marítimas na nossa Amazônia Azul. Cabe destacar que a ERMCN participa periodicamente de exercícios operativos com os Distritos Navais e com a Esquadra, assim como é responsável pela capacitação dos militares da Marinha da especialidade de Comunicações Navais, uma relevante área de conhecimento”, afirma o Comandante da Estação, ao explicar a importância das atividades realizadas pela ERMCN.
Antena da Estação Radiogoniométrica da Marinha em Natal – Imagem: Marinha do Brasil
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