O II Workshop “No Mar com Elas” foi realizado na terça-feira, 27 de maio, no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (CIAGA), em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Marítima. O evento contou com um ciclo de painéis conduzidos por mulheres do setor, que compartilharam conhecimentos técnicos e experiências profissionais nas áreas marítima e portuária.

O evento teve alcance internacional, com a participação de integrantes da Rede de Mulheres da Autoridade Marítima da América Latina (Red MAMLa), que representaram as Marinhas dos países latino-americanos.

Durante o workshop, foi formalizada uma parceria entre a Red MAMLa e instituições da comunidade marítima brasileira, como a Women's International Shipping & Trading Association (WISTA) Brazil, o Centro de Capitães da Marinha Mercante, o Sindicato dos Oficiais e Eletricistas da Marinha Mercante (SINDMAR) e a Associação Mulheres Aquaviárias do Brasil. O objetivo é promover ações que ampliem a inclusão e a retenção de mulheres nas carreiras marítimas. Atualmente, elas representam cerca de 2% da força de trabalho do setor em nível mundial.

Segundo a vice-presidente da WISTA Brazil, Flávia Melo, “o Dia Internacional da Mulher na Indústria Marítima celebra tudo o que a WISTA representa: união, resiliência e a força de todas as mulheres que atuam, seja a bordo, em terminais, portos, bases operacionais ou em atividades essenciais à navegação. Somos, sim, mulheres que movem o mundo, e nos enche de orgulho poder mostrar as diversas possibilidades da indústria marítima para a nova geração que se forma nas escolas de Marinha Mercante.”

Palestras e painéis técnicos de alta relevância

O conteúdo do evento foi alinhado ao tema proposto pela Organização Marítima Internacional (IMO) para 2025 — Um oceano de oportunidades para as mulheres —, que reflete o potencial para inclusão, inovação e igualdade no setor marítimo.

Na primeira edição, em 2024, os temas abordaram liderança, segurança e sustentabilidade, operações de transbordo (ship-to-ship) e eficiência energética. Em 2025, os debates avançaram ainda mais, abordando os seguintes temas:

   • Segurança operacional em terra e no mar;
   • A transição de carreira do Oficial da Marinha Mercante para a Marinha do Brasil;
   • O papel estratégico do Capitão de Porto (Port Captain) como elo entre mar, porto e frota;
   • Enfrentamento ao assédio no ambiente de trabalho; e
   • Desafios e soluções para a Praticagem na Amazônia, especialmente em razão das restrições de calado provocadas pelas severas secas na região.

Para a Embaixadora da Boa Vontade Marítima da IMO (Organização Marítima Internacional), Capitão de Longo Curso (CLC) Fabiana Durant, “o evento ‘No Mar com Elas’ representa um avanço importante na valorização da presença feminina no setor, promovendo o diálogo, a representatividade e o fortalecimento de políticas voltadas à equidade. Iniciativas assim são fundamentais para construirmos um ambiente mais inclusivo, onde o talento das mulheres seja reconhecido em todos os níveis da atividade marítima.”


A Prática Claudia Duarte, palestrante do evento, acrescentou: “Senti-me profundamente honrada em compartilhar minha experiência recente na região amazônica. Tenho muito orgulho de ser a primeira mulher Prática na Zona de Praticagem de Manaus — uma conquista que carrego com responsabilidade. Ver mais mulheres ocupando espaços no setor marítimo é inspirador, e acredito que eventos como este reforçam a importância da representatividade, do diálogo técnico e da valorização do nosso papel na atividade marítima.”

Mulheres no setor marítimo

Em meio à imensidão azul que conecta continentes e impulsiona a economia global, mulheres estão presentes no comando de embarcações, nas operações portuárias, na praticagem e em funções estratégicas, ampliando sua participação no setor marítimo.

Entre essas mulheres está a 1º Oficial de Máquinas Mônica Ramos de Paula Nycz, que possui mais de 20 anos de experiência no setor marítimo. “Desde criança, eu desmontava motores com meu pai. Sempre fui fascinada por esse universo”, relembra. A vontade de atuar no mar a levou à Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (EFOMM), onde integrou a quarta turma com presença feminina na especialidade de Máquinas. “Na época, eram pouquíssimas mulheres nessa área. Muitas vezes, eu era a única na praça de máquinas, cercada por colegas homens”, recorda.


Atualmente, como superintendente marítima, ela acompanha de perto a evolução do setor, especialmente no segmento offshore, que tem se expandido no Brasil. “Para quem deseja ingressar na Marinha Mercante, há um futuro promissor. A área de petróleo está crescendo, e as oportunidades embarcadas também”, destaca. Segundo a Oficial de Máquinas, as embarcações estão cada vez mais preparadas para receber mulheres a bordo. “É um ambiente muito promissor, e juntas podemos transformar o mar em um espaço seguro, produtivo e essencial para a economia do País.”

A presença de mulheres no passadiço de comando de navios ou na liderança de operações portuárias representa não somente um avanço na representatividade, mas também demonstra que competência e liderança estão associadas ao mérito, independentemente de gênero.

A CLC Hildelene Lobato Bahia foi a primeira mulher comandante da Marinha Mercante Brasileira e se tornou um símbolo de pioneirismo no setor. “Meu maior orgulho é esse legado. É chegar a bordo e ver mulheres ocupando todos os espaços: em navios, plataformas, na praticagem. Isso me mostra que valeu a pena. Hoje, consigo ver que deu certo, e isso é muito gratificante.”


Enquanto mulheres experientes comandam e lideram, outras estão iniciando sua trajetória. É o caso de Gabriela Mendes Maia, aluna do segundo ano do curso de Máquinas do Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (CIAGA).

Segundo Gabriela, os principais fatores que a motivaram a ingressar na escola foram a amplitude da carreira na Marinha Mercante e a qualidade da formação oferecida. “Temos professores com trajetórias muito diversas na área, o que nos proporciona uma visão ampla sobre as possibilidades do nosso futuro profissional. Eles compartilham experiências que nos inspiram e nos preparam para os desafios da profissão.”


A aluna destaca ainda que escolheu o curso de Máquinas por desejar atuar diretamente na operação e que sonha em trabalhar embarcada. “Gosto da ideia de atuar no mar, esse ambiente tão vasto e desafiador. É uma oportunidade única que essa carreira oferece.”

Marinha Mercante e sua relação com a Marinha do Brasil

A Marinha Mercante é composta por navios e profissionais civis que atuam no transporte marítimo, fluvial e lacustre, sendo essencial para a economia brasileira ao movimentar cerca de 95% do comércio exterior. Embora de natureza civil, possui forte vínculo com a Marinha do Brasil (MB), que exerce a função de Autoridade Marítima, regulando, fiscalizando e garantindo a segurança da navegação.

A relação entre a Marinha Mercante e a Marinha do Brasil é estreita. A formação dos Oficiais da Marinha Mercante ocorre em instituições vinculadas à MB: o Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (CIAGA), no Rio de Janeiro, e o Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar (CIABA), em Belém. Os formandos da Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (EFOMM) também ingressam na reserva da MB, com o posto de Segundo-Tenente, podendo ser convocados, em situações de mobilização nacional ou emergência, para atuar na Defesa do País.


A Capitão de Corveta (T) Claudia Diniz da Silva Verçosa é bacharel em Ciências Náuticas, com especialização em Máquinas, pelo Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (2001 a 2004) e bacharel em Engenharia Mecânica pela Universidade Santa Úrsula. Após atuar na Marinha Mercante, ingressou na MB, em 2008, na especialidade de Segurança do Tráfego Aquaviário. Serviu em diversas Capitanias dos Portos e, atualmente, está lotada na Diretoria de Portos e Costas. Em 2023, foi designada como representante da Autoridade Marítima Brasileira na Rede de Mulheres da Autoridade Marítima da América Latina (Red MAMLa).

Segundo a Comandante Claudia Diniz, sua motivação para seguir a carreira marítima surgiu da oportunidade de trabalhar embarcada e de atuar em uma área de grande relevância. “Tenho vocação para trabalhar na área de Máquinas, e meu primeiro trabalho embarcada foi justamente nessa área, na Marinha Mercante. Posteriormente, migrei para a Marinha do Brasil, na área de Segurança do Tráfego Aquaviário, que permite atuar com um propósito muito nobre: a segurança da navegação e a salvaguarda da vida humana no mar.”

. . .

Comentários

Ivan de Santana (não verificado) Qui, 29/05/2025 - 16:11

Parabéns a todas essas jovens, que conseguiram enxergar as oportunidades oferecidas e assim abraçaram com garra, carinho, e dedicação.

Oswaldo Henriq… (não verificado) Qui, 29/05/2025 - 17:25

Parabéns as Nossas Marinhas pela sensibilidade de aproveitar as nossas Mulheres nos serviços e embarcações do nosso BRASIL!
Grato
Rocha Fortes
Ex GM CFN

Oswaldo Henriq… (não verificado) Qui, 29/05/2025 - 17:43

Fiz o comentário sobre o aproveitamento das nossas mulheres nas Marinha do Brasil e na Marinha Mercante por achar relevante e inteligente para o nosso Brasil!
Grato
Oswaldo Henrique Rocha Fortes
CRA_PR 1059
OAB_PR 71331
Ex Acadêmico Eng Civil _ Centro Universitário Souza Marques - Rio RJ
Grato
Rocha Fortes

Comentar

O conteúdo deste campo é privado e não será exibido ao público.

Texto puro

  • Nenhuma tag HTML permitida.
  • Quebras de linhas e parágrafos são feitos automaticamente.
  • Endereços de página da web e endereços de e-mail se tornam links automaticamente.