Navios da Marinha do Brasil (MB) podem navegar por vários dias em alto-mar, com centenas de pessoas a bordo, como é o caso do Capitânia da Esquadra brasileira, o Navio-Aeródromo Multipropósito (NAM) “Atlântico”. Em casos como esse, para permanecer tanto tempo sem atracar em algum porto e ainda atender às demandas da cozinha, produção de alimentos, consumo da tripulação, lavagem de roupa de cama, entre outros, ter autonomia para produção de água potável no próprio navio torna-se essencial, explica o Oficial do Departamento de Máquinas do NAM “Atlântico”, Capitão-Tenente Thiago Cavalcante.

O militar afirma que, para conseguir produzir água potável, nesse e em outros navios da MB, é utilizado um sistema chamado de Grupo de Osmose Reversa (GOR). “O NAM tem capacidade de armazenamento de 550 mil litros de água potável, tendo uma média de consumo diário de 150 mil litros, com 1.000 pessoas a bordo. E, para garantir a permanência no mar por longos períodos, o navio possui quatro GOR, que transformam a água do mar em água potável, cada um com uma capacidade nominal de produzir 75 mil litros por dia. Esses grupos são compostos por membranas que funcionam como uma barreira física aos sais e moléculas orgânicas existentes na água, que, por meio do processo de osmose reversa, seguido pela passagem por filtros e outros tipos de tratamentos, garantem a produção de água própria para o consumo humano”, detalhou.

A diferença entre a água que é utilizada no banho e a de ingestão se refere apenas aos filtros dos equipamentos dos bebedouros. “A água produzida pelo navio já vem praticamente preparada para o consumo. Então, é só um refino a mais que fazemos por meio dos filtros dos bebedouros”, conta o fiel da aguada do NAM “Atlântico”, Terceiro-Sargento Heric Vieira dos Santos, que é responsável por monitorar o funcionamento dos equipamentos diariamente.

 


Além da supervisão diária feita pelo fiel da aguada, existe um grupo de militares a bordo que fazem turnos alternados de monitoramento dos quatro GOR. “Os equipamentos são supervisionados de hora em hora, para certificar o funcionamento da pressão, conferir a qualidade dessa água, atestando se ela está no padrão apto para ser depositada nos tanques a bordo”, complementou o Sargento Heric.

Transformação da água

A osmose reversa tem seu processo padrão de realização, ou seja, é o mesmo em todos os navios da Força. “A água vem salgada, do jeito que vemos no mar, porém, ao entrar no equipamento, ela sofre três processos de filtragem, e cada filtro tem uma capacidade maior de retenção de sólidos. Então, quando essa água está praticamente sem sólido, só com o sal, ela chega na membrana e, através de uma pressão muito alta, conseguimos retirar todo esse sal da água, tornando-a apta para o consumo”, explicou o fiel da aguada.

Existe diferença do tratamento de água no navio para a tratada em cidades, afirma o Sargento Heric. “Empresas de grande porte utilizam, geralmente, processos químicos e outros mecanismos de transformação da água, porque eles abastecem cidades. Aqui nós estamos utilizando para um grupo menor de pessoas, mas a qualidade não se diferencia em nada da água em terra para a que temos aqui”, compara.

Diferenças da água de mar e de rio

Dificilmente a água do rio vai passar por um processo de dessalinização por já ser doce, explica o Capitão-Tenente Cavalcante. Nos navios da Marinha, a água de rio é utilizada somente para banho e outros processos de limpeza. “Geralmente, os navios que atuam nos rios possuem capacidade de armazenamento suficiente para ter água potável, pelo número de pessoas e quantidade de dias navegando, e, caso haja necessidade, podem reabastecer em portos ou outros meios próximos às comunidades”, pontuou.

Caso os navios dos rios precisassem utilizar o GOR, ficaria inviável, visto que, na maioria das vezes, os rios não obedecem a uma profundidade ideal e distância suficiente da costa marítima. “No rio, não se usa o grupo de osmose reversa, porque, pela falta de profundidade, haveria probabilidade grande de a bomba aspirar sólidos muito grandes e também pelo fato de as margens serem muito próximas e, às vezes, as populações ribeirinhas acabarem jogando dejetos no rio, que podem trazer algum mal funcionamento ao equipamento”, exemplificou o Oficial.

Equipe de monitoramento do GOR e da água

Um oficial monitora o funcionamento e manutenção do GOR, outro militar especializado monitora a qualidade da água e uma equipe qualificada é preparada para operar e realizar as manutenções efetivamente. “Para que o navio tenha autonomia nas missões, independente da distância a ser percorrida no mar e do tempo de navegação, trabalhamos para que o equipamento esteja sempre impecável, com alta capacidade de produção, para que possamos atender todas as demandas do navio. É um equipamento extremamente importante e sensível a bordo e que faz com que todos os outros departamentos e divisões consigam exercer, da melhor maneira possível e sem preocupações, suas diversas tarefas a bordo”, avaliou o Capitão-Tenente Cavalcante.

Assista ao vídeo:

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