Um motonauta de Cabo de Santo Agostinho (PE) deu carona a uma jovem menor na garupa de sua moto aquática. Após manobra radical, os dois caíram na água e a passageira veio a falecer por afogamento, vítima de imprudente condução, agravada pela negligência do não uso do colete de salva-vidas, que é obrigatório. Este e outros casos foram divulgados nos boletins de acidentes julgados pelo Tribunal Marítimo (TM) brasileiro. A imperícia e a imprudência de condutores e tripulantes de embarcações são as maiores causas para ocorrências de acidentes da navegação, com vítimas, no Brasil.

Nos primeiros seis meses deste ano, o TM julgou 547 processos, que apontaram para o descumprimento das Normas da Autoridade Marítima, resultando em naufrágio, encalhe, colisão, incêndio, avarias nas instalações da embarcação e outros acidentes, e colocaram em risco a vida daqueles que estavam a bordo. Desde 2018, mais de 4.700 processos já foram julgados.

 

“O Brasil é um país marítimo. O desenvolvimento da mentalidade marítima é muito importante, porque 95% de todo comércio exterior escoa pelos meios marítimos e fluviais. A conscientização contribui para reduzir acidentes e o Custo Brasil, além de aumentar a segurança da navegação. Isso colabora para atrair investidores nacionais e internacionais”, explicou o Juiz Presidente do Tribunal Marítimo, Vice-Almirante da reserva Ralph Dias da Silveira Costa, com experiência de quase 40 anos na área naval.

Um caso emblemático no cenário mundial foi o bloqueio do Canal de Suez, principal rota marítima entre a Ásia e a Europa, devido ao encalhe de um navio cargueiro, em 2021, ocasionado por falha humana. O acidente de navegação causou prejuízos financeiros ao redor no mundo, aumentando o preço do petróleo e outras commodities, inclusive no Brasil.

Tribunal Marítimo

O crescente aumento de acidentes da navegação em águas brasileiras nos anos de 1930 e o incidente com o navio Mercante Baden, de origem alemã, tornou necessária a criação de um órgão técnico para avaliar causas e circunstâncias de acidentes envolvendo embarcações nacionais e estrangeiras. Neste contexto, nasceu o Tribunal Marítimo brasileiro, um órgão autônomo, auxiliar do Poder Judiciário, vinculado à Marinha do Brasil, no que se refere a pessoal e material, que tem como objetivo principal julgar os acidentes e fatos da navegação marítima, fluvial e lacustre e atividades relacionadas.

O TM é composto por juízes militares, dos Corpos da Armada e de Engenheiros da Marinha, e civis especialistas em Direito Marítimo, Direito Internacional Público, armação de navios e navegação comercial, além de Oficial da Marinha Mercante. O colegiado abrange todas as áreas do conhecimento, necessárias à análise dos fatos, com capacidade para definir a natureza e as circunstâncias de cada acidente; indicar responsáveis e aplicar as penas estabelecidas por lei; além de propor medidas preventivas e de segurança da navegação.

 

O Tribunal ainda é responsável pelo registro de embarcações de grande porte, como petroleiros e graneleiros, e pelo Registro Especial Brasileiro (REB), que busca incentivar a indústria naval brasileira e a Marinha Mercante nacional. São quase 30 mil registros realizados desde a criação do TM.

Quer saber mais? Confira aqui as novidades do TM.

Entenda como funciona

Quando uma Capitania dos Portos ou Fluvial toma conhecimento de um acidente ou fato da navegação, um inquérito administrativo é instaurado para apurar o ocorrido. Na investigação, são colhidos depoimentos, realizados exames periciais e até acareações entre as partes envolvidas, se necessário. Ao término do inquérito, ele é enviado ao Tribunal Marítimo, que pode solicitar novas diligências.

No TM, o processo é estudado e distribuído para um juiz relator, por meio de sorteio eletrônico. Em seguida, é encaminhado para a Procuradoria Especial da Marinha, a fim de disponibilizar os autos para que o advogado de uma das partes se manifeste. O processo, então, é reenviado para o Tribunal, onde será julgado, com celebração de um acórdão e posterior divulgação no Diário Eletrônico do Tribunal Marítimo. Os processos instaurados perante o Tribunal Marítimo, em que houver crime ou contravenção a punir, e que não forem de sua competência, são remetidos para ação da Justiça comum.

No acórdão redigido pelo TM, são estabelecidas as responsabilidades e as penalidades, como proibir ou suspender o tráfego de embarcações; repreensão por meio de medida educativa; aplicação de multa; suspensão de pessoal marítimo; cancelamento da matrícula profissional e da carteira de amador, entre outras.

Os acidentes e fatos da navegação julgados no Tribunal Marítimo contribuem não só para fazer cumprir as normas vigentes, como também para alertar a sociedade em geral e condutores de embarcações para situações semelhantes e, assim, prevenir a ocorrência de novas tragédias e de perdas de vidas. Siga as recomendações de segurança para uma navegação tranquila.

Biblioteca Almirante Adalberto Nunes

Localizada no interior do Tribunal Marítimo, é a única biblioteca especializada em Direito Marítimo no Brasil. É aberta ao público e a entrada é gratuita.

Endereço: Av. Alfred Agache, s/n – Praça XV de Novembro, Centro, Rio de Janeiro.

Horário de Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 10h às 11h30 e das 13h30 às 16h.

 

Assista a entrevista com o Juiz Presidente do Tribunal Marítimo, Vice-Almirante (RM1) Ralph Dias:

youtube[https://www.youtube.com/embed/ovTze5pjezA?rel=0&]

 

XIV Workshop de Direito Marítimo

Com o objetivo de promover o debate em temas afetos às atividades do Tribunal Marítimo, bem como contribuir para a consolidação de uma mentalidade marítima no País, o TM realizará, no dia 09 de agosto, a partir das 09h, o XIV Workshop de Direito Marítimo. Nos painéis serão trabalhados os seguintes temas: Natureza Jurídica e Nacionalidade das Embarcações; e Abandono e Reciclagem de Embarcações e Plataformas. O evento terá transmissão ao vivo pelo canal do Tribunal Marítimo no Youtube.

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