“Forte senso de responsabilidade” foi o sentimento que marcou a Capitão de Mar e Guerra (Quadro Técnico) Nilza Barros da Silva ao vestir, pela primeira vez, a farda da Marinha do Brasil (MB), ainda na década de 1990. Desde então, o uniforme passou a integrar sua rotina profissional, acompanhando-a em missões humanitárias e operativas em diversas partes do mundo. Após décadas de dedicação ao serviço ativo, a militar prepara-se para novos desafios, em um momento marcado por sentimentos de “saudade” e “gratidão”, como ela mesma define.

Formada em Estatística, a Oficial ingressou na Marinha por meio do Concurso para o Quadro Técnico, após atuar por um período na iniciativa privada. Com a tão esperada aprovação, seguiu para o Curso de Formação de Oficiais (CFO). A jovem que sonhava em “aplicar seus conhecimentos acadêmicos em uma instituição de grande importância para o País” ainda não imaginava as surpresas que a carreira naval lhe reservaria. A multidisciplinaridade é uma das características marcantes de sua trajetória na Força. De setores de natureza operativa à missão de paz na República Centro-Africana, as experiências da Capitão de Mar e Guerra Nilza evidenciam a versatilidade e a resiliência exigidas ao militar da MB.

Honrando as premissas da Rosa das Virtudes, guia dos valores a serem seguidos pelo bom Marinheiro, a Capitão de Mar e Guerra (Quadro Técnico) Nilza Barros da Silva colocou em prática a abnegação e o espírito de sacrifício ao atuar, em 2021, na Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA). Designada para exercer a função de Assessora de Gênero e Proteção na missão da Organização das Nações Unidas (ONU), enfrentou desafios característicos daquele contexto, como alta vulnerabilidade social, conflitos culturais complexos e ambientes marcados por instabilidade e fragilidade institucional.

“O que mais me marcou na missão de paz foi o contato direto com a realidade de populações que enfrentam, diariamente, os efeitos de conflitos armados, instabilidade política e graves ameaças aos seus direitos fundamentais. Atuar como Assessora de Gênero e Proteção na MINUSCA proporcionou-me uma vivência intensa e transformadora. A missão ampliou significativamente minha compreensão sobre o papel das Forças Armadas em cenários internacionais e reforçou a importância da presença feminina nos espaços de decisão. Essas experiências fortaleceram em mim o compromisso com a agenda ‘Mulheres, Paz e Segurança’ e a convicção de que a paz duradoura só é possível com a participação efetiva de todos os segmentos da sociedade”, comentou a Capitão de Mar e Guerra Nilza.

Além das missões operativas, a Capitão de Mar e Guerra Nilza, profissional da área de Estatística, também desenvolveu um trabalho técnico e especializado, essencial para a segurança da navegação. “Ao longo da minha trajetória na Marinha do Brasil, adquiri experiência em análise de dados, modelagem estatística e apoio à tomada de decisão. Participei de projetos voltados à avaliação do desempenho de modelos numéricos aplicados à previsão do tempo, empregando técnicas estatísticas para aprimorar a precisão das informações meteorológicas”, relatou.

Enquanto aguardava novos desafios na MB, a Capitão de Mar e Guerra Nilza também avançava em sua trajetória pessoal. A diversidade das áreas em que atuou na Força exigia constante aperfeiçoamento profissional. “Precisei buscar conhecimentos em áreas como Meteorologia, Oceanografia, Tecnologia da Informação e, posteriormente, durante a missão de paz, me aprofundar nos temas da agenda ‘Mulheres, Paz e Segurança’, com ênfase na proteção de civis, na questão de gênero e na prevenção de abusos em contextos de conflito. Esse movimento contínuo de adaptação e aprimoramento foi o que mais contribuiu para minha evolução profissional e pessoal”, afirmou.

Mulher e militar

Canadá, China, Finlândia, Estados Unidos e República Centro-Africana foram alguns dos países em que a Capitão de Mar e Guerra Nilza Barros representou a MB. A experiência adquirida durante a missão de paz proporcionou-lhe as condições para conduzir o Curso, no México, o Curso de Conselheira de Gênero, voltado a militares em preparação para operações das Nações Unidas. Ao lado de outras militares do sexo feminino, testemunhou o aumento da presença feminina na Marinha. O que inicialmente representava um desafio — atuar em um ambiente majoritariamente masculino — transformou-se em uma oportunidade de crescimento e superação.

“Ao longo do tempo, tive colegas e líderes que valorizaram a competência e o comprometimento, independentemente do gênero. Também foi possível perceber mudanças graduais e consistentes na cultura institucional, refletindo um movimento mais amplo de valorização do papel da mulher não só na Marinha do Brasil, mas em todas as Forças Armadas”, contou a Oficial.

A Capitão de Mar e Guerra Nilza Barros observa que a ampliação da participação feminina também se refletiu em âmbito internacional, influenciando diretamente a atuação nas missões da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Nos últimos anos, houve um aumento significativo nas responsabilidades das Assessoras de Gênero nas missões de paz, que passaram a atuar em áreas estratégicas como a prevenção da violência sexual relacionada ao conflito, o enfrentamento da violência baseada em gênero, a proteção de crianças, a prevenção da exploração e do abuso sexual e a proteção de civis. Essa evolução demonstra o reconhecimento crescente de que a proteção de civis, especialmente em zonas de conflito, está intrinsecamente ligada às questões de gênero, sendo fator essencial para a eficácia das operações de paz conduzidas pelas Nações Unidas”, destacou.

Durante sua atuação no continente africano, a Capitão de Mar e Guerra Nilza Barros exerceu a função de assessora direta do Force Commander (Comandante de Força) da MINUSCA para temas relacionados a gênero e proteção. Coordenou o trabalho de cinco Oficiais conselheiras distribuídas em diferentes setores da missão, sendo também responsável por treinamentos voltados à identificação e à comunicação de violações contra homens, mulheres e crianças. Além disso, elaborou e atualizou procedimentos operacionais referentes às atividades de gênero e realizou visitas e inspeções de campo para analisar riscos relacionados à exploração e ao abuso sexual.

A resiliência necessária para enfrentar os desafios da carreira naval também foi aplicada no âmbito familiar da militar. O desejo de ser mãe sempre esteve presente ao lado das responsabilidades profissionais, mas precisou ser adiado ao longo dos anos. Com isso, surgiram os desafios enfrentados por mulheres que decidem exercer a maternidade em uma fase mais madura da vida.

“A maternidade, que vivi por meio da adoção, tem uma ligação muito forte com a minha trajetória profissional. Sempre servi no Rio de Janeiro, mas, após a missão de paz, fui transferida para Brasília, onde passei a atuar no setor responsável pela seleção de militares para missões de paz de caráter individual. Como já estava há seis anos na fila de adoção, precisei transferir meu processo para o Distrito Federal. Oito meses depois, recebi uma ligação da Vara da Infância da Capital informando sobre uma criança compatível com o meu perfil. Antônio Levi chegou à nossa família com dois meses — hoje ele tem três anos. Acredito que não foi por acaso que eu estava em Brasília naquele momento. De alguma forma, era ali que eu precisava estar para viver um dos momentos mais importantes da minha vida”, confidenciou a militar.

 

Hoje, ao olhar para a trajetória percorrida, permanece o desejo de continuar contribuindo com a sociedade de alguma forma. A jovem estatística de anos atrás, que reconheceu imediatamente a responsabilidade de vestir a farda, ainda não imaginava todas as oportunidades e experiências que viveria como militar. “Sonhe com coragem, planeje com dedicação e trabalhe com perseverança. Acredite nos seus sonhos, coloque-os no papel e acompanhe de perto se suas ações estão realmente conduzindo você na direção certa [...]. Lembre-se de que não há crescimento sem esforço, e que cada obstáculo superado a aproximará ainda mais do profissional e da pessoa que você deseja se tornar”, finalizou a Capitão de Mar e Guerra da reserva Nilza Barros.

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