“... Quem são estes vibrantes guerreiros? Estes homens valentes quem são? Da Marinha leais fuzileiros, combatentes de armas na mão...”. Essas frases fazem parte da canção “Soldados da Liberdade” e representam a coragem, a dedicação, o profissionalismo e a determinação dos combatentes anfíbios da Marinha do Brasil (MB). Os Fuzileiros Navais (FN) são a força estratégica da MB, de caráter expedicionário, que está permanentemente pronta para ser empregada em diversas missões e projetar o Poder Naval em terra. Mas o que significa isso?

O encarregado do Museu do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), Capitão de Corveta Fuzileiro Naval (FN) Esley Rodrigues de Jesus Teixeira, é o convidado da Agência Marinha de Notícias (AgMN) para explicar a história, algumas curiosidades, o preparo e o emprego desses militares, capazes de atuar na terra, no mar e em locais de difícil acesso, e são essenciais para a defesa de instalações navais e portuárias, arquipélagos e ilhas oceânicas nas águas jurisdicionais brasileiras e para o controle das margens das vias fluviais.

AgMN - Como surgiram os Fuzileiros Navais do Brasil? Em que momento ocorreu a necessidade de ter esta capacidade especial e por quê?

Capitão de Corveta (FN) Esley Rodrigues - Os Fuzileiros Navais (FN) surgiram com o Terço da Armada da Coroa de Portugal durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), quando Felipe III, Rei da Espanha e de Portugal, viu a necessidade de resgatar os domínios portugueses nas Novas Índias, dos quais o Brasil fazia parte, e estavam dominados pelos Holandeses em 1624.

Com a invasão napoleônica em Portugal, a Família Real embarcou rumo ao Brasil, sendo escoltada pelos FN, e aqui chegaram em 1808. Eles foram a única tropa profissional terrestre do Brasil até a criação do Exército Imperial, por Dom Pedro I, nas guerras de Independência, e tiveram um papel importante na conquista da Capital Francesa nas Américas, em 1809, hoje conhecida como Guiana Francesa. Esse batismo de fogo ficou conhecido como a Tomada de Caiena.

Essa característica anfíbia e expedicionária foi, portanto, essencial para que Portugal tivesse maior poder de barganha no Congresso de Viena em 1815. Desde então, tornou-se condição primária ao Brasil possuir essas capacidades operativas.

AgMN - O Brasil foi descoberto pelos portugueses e recebeu influência deles. Quais as diferenças entre os Fuzileiros Navais portugueses daquela época e os brasileiros?

Capitão de Corveta (FN) Esley Rodrigues - Os Fuzileiros Navais brasileiros, na verdade, eram os militares portugueses da Brigada Real da Marinha, criada em 1797, pela Rainha Dona Maria I, que permaneceram no Brasil mesmo após o retorno de Dom João VI a Portugal para conter a Revolta Constitucionalista do Porto.

Desde então, não sairiam mais daqui. Aliás, o mesmo local em que foram instalados em 1809, na Fortaleza de São José da Ilha das Cobras no Rio de Janeiro, continua sendo a sede de seu Comando-Geral.

AgMN - Os FN são muito conhecidos por enfrentar situações extremas, que exigem bastante preparação física e psicológica. Como eram os treinamentos?

Capitão de Corveta (FN) Esley Rodrigues - O treinamento físico sempre esteve presente na história do CFN, sendo adaptado de acordo com a tecnologia e conhecimento da época e com a característica de determinada guerra. Antigamente, os exercícios eram ligados ao aumento do número de passos por minuto, a fim de dar maior velocidade de progressão e impulsão do ataque, além de ordem unida silenciosa, precisão do tiro e marchas.

No início do século XX, o treinamento aplicado aos FN serviu de inspiração para a Polícia Militar de São Paulo, que implementou no seu dia a dia. A fama internacional do preparo físico dos navais brasileiros veio, na década de 1920, quando o adido militar da Alemanha relatou para o seu país sobre as técnicas aqui utilizadas pelos nossos Fuzileiros Navais.

AgMN - Os FN participaram de batalhas importantes para o Brasil. Quais delas merecem destaque?

Capitão de Corveta (FN) Esley Rodrigues - As Batalhas de Passo da Pátria, Riachuelo e Humaitá foram memoráveis. Acredito, contudo, que o mais importante foi seu batismo de fogo em Caiena, na Guiana Francesa. As implicações políticas dessa batalha foram imensas: Portugal voltou a ser visto em pé de igualdade em relação às potências europeias, obtendo uma força maior no Congresso de Viena; foi a primeira operação combinada de nossa história, contando com a participação de navios ingleses, mercenários da força terrestre brasileira e a Brigada Real da Marinha; e ajudou a reforçar a ideia de que o Brasil mereceria ter maior relevância dentro do Império Ultramarino português, o que ocorreu, em 1815, quando recebeu o título de Reino Unido a Portugal e Algarves.

Essas mudanças - no cenário regional, como único país administrativamente independente da região, e global, particularmente o europeu - foram importantes para o Movimento da Independência (1821-1822) do Brasil.

AgMN - Tem alguma curiosidade que poucas pessoas conhecem sobre os combatentes anfíbios? Conte para os leitores da Agência.

Capitão de Corveta (FN) Esley Rodrigues - Há várias curiosidades, mas vamos limitar a quatro personagens civis que marcaram nossa história:

Paula Baiana foi escrava e, após a sua alforria, começou a vender quitutes na entrada do antigo Arsenal de Marinha. Ela passou a fazer parte do nosso dia a dia no início do século XX. Ela desfilou nas comemorações do 7 de setembro. Quando morreu, recebeu honrarias e salvas de graduação de Sargento;

Violeta Telles Ribeiro, esposa do Almirante Telles Ribeiro, criou o lema “Adsumus”, que é um termo de origem latina com significado de “aqui estamos!”, “estar presente”, “estar junto” e, por extensão, significa um sentimento de permanente prontidão;

A poetisa imortal Rachel de Queiroz é considerada a madrinha dos Fuzileiros Navais, pois fazia questão de exaltar a postura desses militares em suas obras; e

Emilinha Borba, cantora e considerada a rainha do rádio no século XX, ganhou o título de “Favorita da Marinha”, por dedicar canções à Força Naval, como “Aí Vem a Marinha” e “Cisne Branco”.

AgMN - Quais os principais marcos na evolução tática do emprego dos Fuzileiros Navais brasileiros desde sua origem até os dias atuais?

Capitão de Corveta (FN) Esley Rodrigues - A evolução tática foi gradual, com pontos bem delineados e alinhados com as tarefas por eles desempenhadas, até se tornar estratégica nos anos 2000.

Em 1797, os Fuzileiros Navais eram responsáveis, categoricamente, pelo guarnecimento de armas navais e segurança das instalações de interesse da Marinha. Já durante as guerras de Independência, as abordagens e desembarques passaram a ser uma constante, como podemos observar nas campanhas da Cisplatina com o desembarque em Maldonado e, em 1864, na tomada de Paysandu.

Na Guerra da Tríplice Aliança (1864 a 1870), os FN desembarcaram com os canhões swivels (giratórios) dos navios para apoiar o estabelecimento de corredores de trânsito e interdição fluvial. Na década de 1910, o então Capitão-Tenente Protógenes, um grande entusiasta das Operações Anfíbias, impulsionou atividades neste campo.

Já no período de 1940 a 1950, os FN passaram a apresentar uma grande evolução na doutrina e ensino, legado do Almirante Sylvio de Camargo, o patrono do CFN. Em 1960, sob o comando-geral do Almirante Heitor Lopes de Souza, as Operações Dragão começaram a ser realizadas regularmente, envolvendo meios da Esquadra e planejamento com a Aviação Naval.

A partir dos anos 2000, com a aquisição de novos meios navais, maiores e com maior autonomia, foi fundamental estimular uma cultura de uma revisão doutrinária por meio dos simpósios. Também ocorreram mudanças no ambiente operacional global, como: fim da guerra fria, crescimento de operações de paz, instabilidades marítimas e publicações da Política e Estratégia Nacionais de Defesa, que contribuíram para fortalecer o papel das operações anfíbias e a capacidade expedicionária.

Dia dos Fuzileiros Navais

No dia 7 de março de 1808, chegou ao Brasil a Brigada Real da Marinha, juntamente com a Família Real portuguesa, que transmigrava a sede do reino para o Brasil. Essa unidade foi o embrião do atual Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil e o 7 de março se tornou a data de aniversário da tropa anfíbia brasileira. A partir deste ano, em que se comemora o 216º aniversário do CFN, a data passa a ser conhecida como o Dia dos Fuzileiros Navais. Para mais informações sobre a história e atualidades do CFN, acesse o hotsite alusivo à data clicando aqui.

Saiba mais sobre o Museu do Corpo de Fuzileiros Navais

Localizado na Fortaleza de São José, na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro (RJ), o Museu do Corpo de Fuzileiros Navais está situado nas instalações que, desde o fim da campanha contra os franceses em Caiena (Guiana Francesa – 1809), foram ocupadas pelos componentes da Brigada Real da Marinha, origem do  atual CFN. O circuito do Museu é composto por dois túneis subterrâneos que, historicamente, foram construídos para servir de ligação segura pelos portugueses e onde estão expostos: documentos, medalhas, pratarias, material arqueológico, fotografias, equipamentos e armamentos.

Já no salão principal, podem ser observadas obras de arte, esculturas, medalhística, pratarias, maquete da ilha em 1736 e miniaturas. Também há uma galeria de uniformes, com diversos modelos utilizados no decorrer da trajetória histórica, além de um salão com 40 painéis e monitores de LCD, que retratam a participação dos FN nos eventos ligados à formação da nacionalidade e do Estado brasileiro. Na área externa do museu, o visitante terá contato com viaturas operativas, canhões, metralhadoras e motocicletas de combate.

O museu está aberto de terça a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h30 às 16h. As visitas podem ser marcadas pelo telefone (21) 2126-5053. A entrada é gratuita. O acesso é pela área do 1º Distrito Naval, situado na Praça Mauá, nº 65, no Centro (RJ).

Assista ao vídeo:

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