Quando o Suboficial (Comunicações Interiores) Wagner Pinheiro Jacintho leu as folhas rosas do Jornal dos Sports e viu seu nome entre os aprovados para a Escola de Aprendizes-Marinheiros, em 1990, não fazia ideia do que o aguardava. Sem militares na família, não conhecia a carreira naval e as oportunidades que ela poderia lhe proporcionar. Sua trajetória é marcada por diversas missões, viagens nacionais e internacionais, aprendizados e muitas amizades.

Neste ano, o Suboficial Jacintho completou 1.600 dias de mar, sendo mil somente a bordo do Monitor “Parnaíba”, navio mais antigo da Marinha do Brasil (MB) em atividade, subordinado ao Comando da Flotilha de Mato Grosso. 

O militar possui 11 anos de serviço no Monitor “Parnaíba” e presenciou a passagem de 12 comandantes e seis imediatos pelo navio (segunda pessoa no comando). Atualmente, é Supervisor de Máquinas e Líder de Crache, com 22 militares sob sua supervisão. Já participou de mais de 12 missões internacionais, como “ACRUX”, “Platina”, “BrasBol” e “Ninfa”, realizadas na Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai. 

Com o Pantanal de cenário, participou dos pousos de número 2.000 e 2.500 do helicóptero UH-12 do 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral do Oeste, totalizando mais de mil pousos durante seu período embarcado no Monitor.

Além dos números, o Suboficial Jacintho relembra as diversas missões operativas no Rio Paraguai, nos estados de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul. “Passei por situações muito tristes e que marcaram a minha vida, como missões de busca e salvamento no Rio Paraguai, entre elas, a de uma embarcação boliviana com oito passageiros." 

Um dos maiores desafios enfrentados pelo militar foi quando um dos motores e um dos geradores do Monitor “Parnaíba” queimaram e o navio ficou sem energia durante uma missão. “Num primeiro momento pensei que não ia dar certo, tivemos que inverter o funcionamento deles, movimentar os motores e, cada um deles pesa cada um mil quilos. Mas conseguimos fazer."

O Capitão de Corveta Philipe Guimarães Braz Mello Cardoso serviu quatro anos com o Suboficial Jacintho no Monitor “Parnaíba” e destacou a liderança do militar. “Quando embarquei no navio, fui Chefe de Máquinas e ele era o Supervisor de Comunicações Interiores. Na época, ele ainda não era o Supervisor de Máquinas, mas já demonstrava uma liderança muito forte dentro da equipe. Isso é algo que sempre se destacou nele: a capacidade de liderança. Além disso, o Jacintho sempre foi extremamente versátil; não se limitava apenas às funções da sua especialidade. Cuidava de questões administrativas e financeiras e, quando surgia um problema mais crítico, ele era a pessoa que eu procurava para resolver."

Ao completar 34 anos de serviço ativo, o Suboficial Jacintho não imagina outra vida sem a Marinha. “Gosto muito do que faço. A MB representa tudo para mim. Tudo o que conquistei, tudo o que sou, devo a ela. Minha profissão, minha história, o sustento e as oportunidades que pude proporcionar à minha família, aos meus pais e aos meus filhos. Aqui, fiz amigos que levo para a vida toda, amizades verdadeiras, forjadas no companheirismo e na missão de servir."

E foi ao lado dos amigos de Ladário (MS) que o militar passou por uma grande mudança no estilo de vida. “Montamos um grupo de corrida com os militares do navio, com direito a camiseta e nome. Ao lado deles, passei a correr com frequência, emagreci 30 quilos e comecei a participar das corridas de rua. Em 2023, para comemorar meu aniversário de 50 anos, corri 50 quilômetros. Muitos militares já desembarcaram do navio e deixaram a cidade, mas o grupo ganhou novos integrantes e permanece ativo”, conta.

Carreira

Natural de São Gonçalo (RJ), o Suboficial Jacintho decidiu prestar o concurso de Aprendiz-Marinheiro após receber a ficha de inscrição de um amigo de infância. Aprovado aos 17 anos, ingressou na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Pernambuco. Apesar do receio inicial da família, seguiu para o curso e, longe dos pais, encontrou nos colegas de turma uma verdadeira família, com quem mantém contato até hoje.

Depois de completar o curso, retornou ao Rio de Janeiro para servir na Diretoria de Hidrografia e Navegação, no Navio Oceanográfico “Almirante Câmara”. Depois de um ano e meio, foi para a Diretoria-Geral do Material da Marinha (DGMM). 

Em 1995, o Suboficial foi designado para o grupo de recebimento da Fragata “Greenhalgh”, realizando sua primeira viagem internacional. Permaneceu na Inglaterra por cinco meses, período em que acompanhou os preparativos para a incorporação do navio à MB. “Lá, construí mais uma família. Estávamos sempre juntos, convivendo em um país diferente e desempenhando funções administrativas relacionadas ao recebimento do navio. No retorno, atuei na praça de máquinas e aprendi o funcionamento da Turbina Tyne, o que despertou meu interesse em seguir nessa área”, relembrou. 

No curso de Cabo, em 1996, especializou-se em Comunicações Interiores e foi designado para servir na Corveta "Julio de Noronha", onde sua paixão pela praça de máquinas se fortaleceu. “Esse navio me forjou dentro da minha especialidade. Servi com militares excelentes, que vestiam a camisa do navio. A Divisão de Máquinas era uma família; trabalhávamos muito unidos”, relembrou.

Depois do curso de formação de Sargentos, retornou à Corveta "Julio de Noronha", onde permaneceu por mais três anos. Com o desejo de se mudar do Rio de Janeiro, o Suboficial Jacintho se voluntariou para servir na área de jurisdição do Comando do 6º Distrito Naval (Com6ºDN).

Em 2004, acompanhado da esposa e dos três filhos, chegou a Ladário, distante mais de 1.800 km de sua terra natal. Durante cinco anos, serviu na Base Fluvial de Ladário e, em 2009, embarcou no Monitor “Parnaíba”. “Eu já tinha bastante tempo de embarque, mas não me via longe dos navios”. 

Em 2010, retornou ao Rio de Janeiro para servir na Fragata “Greenhalgh” e, quatro anos depois, pediu para retornar a Ladário. “Eu optei pelo Com6ºDN, a família só queria vir pra cá. Em 2014, consegui voltar e fui direto para o Monitor ‘Parnaíba’, onde estou até hoje.”

Navio mais antigo da Marinha em atividade

O Monitor “Parnaíba”, que neste ano completará 88 anos de serviço, foi incorporado à MB em 1937 e marcou a retomada da construção naval no Brasil. Em março de 1938, o navio foi incorporado à Flotilha de Mato Grosso e, em abril de 1943, foi desincorporado e incluído à Força Naval subordinada ao Comando Naval do Leste, com sede em Salvador (BA), a fim de escoltar comboios e patrulhar o porto durante a Segunda Guerra Mundial. Durante o conflito, navegou 3.570 milhas (equivalente a 6.600 km) e, em maio de 1945, retornou a Ladário, onde permanece subordinado.

Em 1998, o Monitor “Parnaíba” passou por um processo de modernização e teve a sua vida útil prolongada com maior autonomia, eficácia, mobilidade, flexibilidade e poder de fogo. No mesmo ano, o chapeamento do convoo começou a ser montado, tornando-o o único navio da MB no Pantanal capaz de operar com aeronave orgânica.

Atualmente, o navio apoia operações ribeirinhas no Pantanal, coopera em ações de inspeção naval, efetua busca, socorro e salvamento fluvial e apoia as ações de Assistência Cívico-Social às populações ribeirinhas.

Imagem de capa: Cabo AM Pessanha

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Comentários

Sebastiao silva (não verificado) Sáb, 22/03/2025 - 21:33

Felicidades Sub oficial Jacinto, parabéns.
Grande reconhecimento da Nossa Marinha do Brasil.
MN QSM 85183741.

Nelson Gomes d… (não verificado) Seg, 21/07/2025 - 21:47

Parabéns ao suboficial Jacinto pela sua trajetória naval, só quem teve o privilégio de servir a Briosa Marinha sabe quanto foi importante para sua vida, aprendendo,e ganhando grandes conhecimentos.
Eu servir por 31 anos, e fico muito gratificado por tudo que aprendi e consegui.
BRAVO ZULU

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