O nome de Alberto José do Nascimento pode não ser amplamente conhecido, mas sua trajetória merece registro. Natural de Natal (RN), filho de pescador e de mãe italiana, foi um dos pioneiros do mergulho de resgate no Brasil, tornando-se referência nacional nesse campo. Ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, descobriu desde muito jovem a vocação para o mar.
Na infância, Alberto auxiliava o pai nas travessias de barco entre Natal e Redinha. Com facilidade para números e idiomas, aprendeu inglês de forma autodidata, dialogava com turistas holandeses e britânicos que passavam pela cidade e auxiliava na troca de moedas para os visitantes. Esse olhar atento ao mundo, somado à curiosidade por tudo que envolvia o mar, alimentava o sonho de tornar-se marinheiro. Da janela de seu quarto, no bairro das Rocas, observava navios atracados e militares em movimento no porto, imagens que o motivaram a seguir a carreira naval.
Aos 17 anos, deixou Natal rumo ao Rio de Janeiro, onde desenvolveu toda a sua carreira na Marinha do Brasil (MB). Atuou como marinheiro no setor de máquinas de submarinos, enfrentando jornadas intensas e ambientes de altas temperaturas. Mesmo diante das dificuldades, manteve-se dedicado aos estudos, sempre em busca de aprimoramento e aproveitando cada oportunidade que surgia.
A turma de 1954
Foi durante um dia de serviço que Alberto soube da seleção para um curso de mergulho da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). A disputa foi acirrada: concorrendo com diversos brasileiros, ele foi um dos dois aprovados para integrar a turma de 1954, ao lado de Luiz Oliveira.
Essa mesma turma foi eternizada no filme “Homens de Honra” (2000), que narra a trajetória de Carl Brashear, o primeiro mergulhador negro da Marinha dos Estados Unidos. No entanto, Alberto não é retratado fielmente na obra: sua figura foi substituída por um personagem fictício, um mergulhador americano com gagueira. Ainda assim, ao final do longa, é possível vê-lo na fotografia real da turma.
O curso teve duração de quatro meses, período em que se destacou tecnicamente, concluiu a formação entre os dez melhores e foi aprovado com 75% de aproveitamento. Ao lado de Carl Brashear — com quem construiu amizade próxima — e de Luiz Oliveira, marcou seu nome na história.

De volta ao Brasil, Alberto construiu uma sólida carreira como mergulhador de resgate. Atuou em diversas operações de salvamento, como os trabalhos de localização de corpos da lancha “General Cunha Pires”, após uma explosão em 1954. À época, o jornal Última Hora descreveu sua atuação:
“O escafandrista, Alberto José do Nascimento, Terceiro-Sargento da Marinha de Guerra, ouviu as instruções do Capitão Osma, do Corpo de Bombeiros, e se atirou na água, apenas protegido com máscara de oxigênio e luvas de proteção. Saiu nadando para mergulhar sob a lancha que estava quase submersa. Um minuto depois voltou à tona e fez um sinal convencional para os companheiros, que, de bordo de uma lancha da Marinha de Guerra, seguiam atentos seus movimentos, indicando que havia localizado um corpo. A corda necessária lhe foi atirada e o nobre marinheiro novamente mergulhou, demorando dessa vez mais tempo sob as águas.”
Também participou das buscas pelo cargueiro “TATA”, em 1959, e da remoção dos destroços do avião Scandia, da Viação Aérea São Paulo (VASP), que caiu na Baía de Guanabara, em 1958, além de muitas outras ações. Em entrevista ao jornal A Tribuna, em 2004, afirmou com segurança: “No curso eu estava sempre no topo, e no Brasil não sei de ninguém que tenha feito mais salvamentos que eu.”
Naquela época, o mergulho na MB ainda não era uma especialidade formal. Segundo o Suboficial da Reserva Ricardo Dias dos Santos, que também atuou como escafandrista, foi o retorno de Alberto e Luiz ao Brasil que impulsionou o avanço na escafandria naval: “O mergulho era apenas uma qualificação extra dos militares de outras áreas. Só em 1981 foi criada a especialidade de Mergulhador. Embora o Mergulhador 01 não tenha sido nem Alberto nem Luiz, eles são os responsáveis por trazer a doutrina americana e ajudar a estruturar, junto à Força de Submarinos, os cursos que viriam depois.”

Amor, lealdade e legado
O retorno de Alberto ao Brasil, após a conclusão do curso, também marcou o início de uma nova história: seu relacionamento com Daisy Bahiense, com quem se casou em 1957 e teve sete filhos. O primeiro contato ocorreu em um ponto de ônibus em Madureira (RJ), onde passaram dias trocando apenas “bom dia” — até que um pedido de ajuda com o troco iniciou o diálogo, que resultou em um convite para o cinema.
O namoro, nos moldes da época, teve início formal após o pai de Daisy orientá-la para que Alberto fosse até sua casa, ao flagrar os dois conversando na rua. Ele chegou pontualmente, depois de um dia de serviço, e foi aceito pela família.

Alberto aposentou-se como Primeiro-Tenente, aos 47 anos, mas nunca abandonou o mar. Fundou empresas de salvamento naval, com filiais no Rio de Janeiro, Fortaleza, Porto Alegre e Salvador. Sua esposa tornou-se sua grande parceira de vida e de trabalho, auxiliando na revisão de contratos e na administração das empresas. “Ela era o braço direito dele, corrigia tudo antes de ser entregue”, relatou a filha do casal, Nadia Bahiense.
Nos últimos anos de vida, Alberto tentou escrever um livro sobre sua história, mas interrompeu o projeto ao perceber que começava a esquecer datas e nomes. Os manuscritos iniciados nunca foram localizados pela família.
Alberto José do Nascimento faleceu em novembro de 2018, aos 91 anos, no Rio Grande do Norte. Foi homenageado pela MB em cerimônia realizada no Rio de Janeiro, deixando como legado uma trajetória de coragem, pioneirismo e dedicação ao serviço naval.
Formação e atuação dos Mergulhadores Escafandristas
O Curso de Formação para Oficiais Escafandristas tem duração de nove meses, com início antecipado de três meses para Praças. É estruturado em módulos como Natação de Resgate, Mergulho Autônomo, Mergulho Dependente e Corte e Solda Submarina. A exigência é elevada, com taxa média de reprovação entre 40% e 50%.
Após a formação, o militar pode prosseguir sua qualificação com cursos de Mergulho Técnico e Mergulho Saturado. Além das atividades operativas, o Escafandrista costuma seguir a trajetória profissional previamente definida, exercendo funções técnicas a bordo.
Comentários
Resgate de uma linda história de família em seus detalhes contado dentro do relato de um grande homem em sua trajetória de vida. Seus valores depositados nos seus descendentes se mostram também ao fazer vir ao conhecimento da sociedade o protagonismo de pessoas ausentes da visibilidade mas que construiu um legado de realizações ao país com seu pioneirismo. Um beijo no coração dos meus primos parabéns pela iniciativa
É um absurdo não ter o reconhecimento de sua trajetória magnífica em salvamentos .Muito embora sua dedicação, coragem só teve o seu reconhecido aqui na nossa Gloriosa Marinha do Brasil. Devemos ser grata pela sua capacidade , exemplos elevando assim o Nosso Brasil.Este é o nosso Herói anônimo para o mundo.👩🍳🥇🇧🇷.Seu legado jamais será esquecido.🙏
Excepcional o trabalho e a redação da Ten Larissa, fico feliz em proporcionar um pouco da história destes heróis da Pátria Alberto e Luiz, sou fã de carteirinha deles e indiscutível entusiasta da minha profissão. Parabéns a Nádia (filha do Alberto) pelos ricos relatos.
Meu Orgulho mergulho fundo, Fortuna e Honra.
Fico muito grata à todos vocês, pela oportunidade de relatar fatos reais da vida do meu Pai. Minha eterna Gratidão!❤️🙏
Parabéns pelo pai que vc teve e parabéns pelo seu reconhecimento em homenagea-lo.
Pertence a uma Instituição séria igual a Marinha é um grande orgulho, fico mais feliz em conhecer essa história deste grande homem do Marcus, que nos trás orgulho em saber que desde os primórdios a Marinha sempre teve homens e mulheres com capacidade profissional a cima da média!
ADSUMUS!!!!!
Pertence a uma Instituição séria igual a Marinha é um grande orgulho, fico mais feliz em conhecer essa história deste grande homem do Marcus, que nos trás orgulho em saber que desde os primórdios a Marinha sempre teve homens e mulheres com capacidade profissional a cima da média!
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