A Marinha do Brasil (MB) promoveu post mortem ao posto de Contra-Almirante a Capitão de Mar e Guerra (Médica) Gisele Mendes de Souza e Mello. A promoção, inédita na Força e decidida durante a reunião do Almirantado desta quarta-feira (26), honrou as quase três décadas em que a militar se dedicou ao serviço da Pátria. 

A Contra-Almirante (Md) Gisele foi atingida por um projétil de arma de fogo em dezembro do ano passado, durante uma cerimônia na Escola de Saúde da Marinha, no Hospital Naval Marcílio Dias (HNMD). Após ser prontamente socorrida, a médica foi internada, mas não resistiu ao ferimento. 

O reconhecimento da Marinha 

Com a promoção, a Marinha do Brasil reconheceu o esforço diário e a dedicação da Capitão de Mar e Guerra (Md) Gisele em cuidar das pessoas e salvar vidas. Ela ingressou nas fileiras da Força Naval em 1995, tinha formação em Geriatria e atuava como Superintendente de Saúde do HNMD. Formada em medicina, em 1993, pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), a Capitão de Mar e Guerra dirigiu o Hospital Naval de Brasília (HNBra) durante a pandemia de Covid-19.

O reconhecimento póstumo emocionou profundamente sua família. O engenheiro Eduardo Francisco de Souza e Mello, viúvo da agora Contra-Almirante, afirmou que o anúncio da promoção trouxe um turbilhão de emoções para ele e os filhos – Carlos Eduardo, de 30 anos, e Daniel Mello, de 22. “Sentimos um imenso orgulho e alegria pelo reconhecimento de sua dedicação inabalável à Marinha do Brasil e à medicina. Foi uma honra ver sua trajetória brilhante coroada com essa promoção”, celebrou.

No entanto, a tristeza de não poder compartilhar tal momento com a Contra-Almirante Gisele foi, para ele, profunda. “Gostaríamos de comemorar juntos essa conquista, que tanto reflete sua competência, entrega, amor à farda e à sua missão. Ainda assim, saber que a Marinha reconhece seu legado nos conforta e reafirma o impacto que ela teve na Instituição e na vida de tantas pessoas”, completou Eduardo.

Esposa e mãe dedicada 

Em casa, a Almirante Gisele era uma mãe amorosa, atenta e dedicada. Segundo Eduardo, ela criou dois filhos com “carinho, firmeza e equilíbrio”, mesmo diante de inúmeros desafios impostos pela rotina exigente do Hospital Naval.

“Com minha carreira exigindo constantes viagens, foi ela quem garantiu a base sólida da nossa família, muitas vezes contando com o apoio dos nossos pais. Ainda assim, sua resiliência e serenidade transformavam desafios em aprendizados, e obstáculos em oportunidades de fortalecimento”, emocionou-se. Como esposa, era também um pilar de apoio e parceria. “Sempre conciliadora e resiliente, também equilibrou a trajetória profissional própria com o suporte à minha carreira”, reafirmou.

Quando servia em Brasília – contou Eduardo – os papéis se inverteram. “Após anos de sacrifícios dela pela nossa família, foi minha vez de apoiá-la. Mesmo com a rotina intensa de reestruturação do hospital e do enfrentamento à pandemia da Covid-19, vivemos momentos preciosos juntos. Pudemos retomar uma rotina mais próxima, jantando juntos todas as noites, passeando nos fins de semana e construindo novas amizades”, lembrou com carinho.

Pioneirismo e comprometimento

Profissionalmente, a dedicação ao serviço redundou em diversas vitórias para a Contra-Almirante Gisele. Seu comprometimento e amor pela Instituição levaram-na a ser pioneira na Geriatria do Hospital Naval Marcílio Dias; a ajudar a implementar o Serviço Integrado de Atendimento Domiciliar (SIAD) na unidade; a participar da criação do Núcleo de Atendimento ao Idoso na Marinha (NAIM); e a fazer história ao se tornar a primeira mulher a dirigir o Hospital Naval de Brasília (HNBra).

Como militar, Gisele foi uma líder exemplar, guiada por um profundo senso de dever e uma coragem moral inabalável. Seu compromisso com a Marinha e com a Família Naval era evidente em cada decisão que tomava, sempre buscando o melhor para a Instituição e para aqueles que serviam ao seu lado. 

Segundo Eduardo, a esposa tinha enorme respeito por seus superiores e colegas, sempre se destacando pelo profissionalismo e humildade. Ele lembra que, quando ela foi convidada a retornar ao HNMD, enfrentou o desafio com a mesma garra e dedicação de seus tempos de jovem Tenente. “As inúmeras manifestações de carinho e admiração que recebeu de seus subordinados e colegas são a maior prova do impacto que deixou”, declarou.

O engenheiro comentou ainda que a esposa via o futuro com a serenidade de quem sempre cumpriu sua missão com excelência. “Se fosse promovida, estava pronta para assumir novos desafios com a mesma determinação de sempre. Se fosse transferida para a reserva, tinha planos muito bem definidos: voltaria a se dedicar à Geriatria, sua outra grande paixão. Cuidar dos idosos sempre foi algo que lhe dava grande satisfação. Ela sonhava em abrir uma clínica voltada a esse público, oferecendo um atendimento humanizado e de qualidade. E se teve um sonho não realizado, foi o de participar de missões humanitárias”, disse.

Ao finalizar a entrevista, Eduardo afirmou que a Contra-Almirante Gisele, onde quer que esteja, “deve estar orgulhosa das outras três militares terem sido promovidas de forma inédita ao Almirantado”.
 

Mais promoções

Do Corpo de Saúde da Marinha, além da Capitão de Mar e Guerra Gisele, foram promovidas outras três mulheres: a Capitão de Mar e Guerra (Médica) Daniella Leitão Mendes; a Capitão de Mar e Guerra (Médica) Mônica Medeiros Luna e a Capitão de Mar e Guerra (Médica) Claudia Regina Amaral da Silva Fiorot.

Ao todo, a lista contemplou 26 promoções em Corpos diversos. Os nomes dos recém-promovidos a Oficiais-Generais serão apresentados ao Ministro de Estado da Defesa e encaminhados ao Presidente da República, com previsão de promoção em 31 de março deste ano.